Olá, vaquinhas!
Chegamos em mais um último dia do mês.
Essa newsletter como vocês já devem ter reparado, namora com o feminismo, o veganismo e todas lutas contra violências, sem querer jogar culpa pelo mal individualmente em você.
Queremos inspirar força coletiva de mudança, para uma sociedade mais justa e viva.
Abraços,
Cassimila e Sarah
VACA PROFANA
Agnes Varda, nascida em 1928 e falecida em 2019, foi uma cineasta francesa que deixou uma marca indelével no cinema mundial. Ela é frequentemente associada à Nouvelle Vague, movimento cinematográfico francês dos anos 50 e 60, embora seu estilo sempre tenha sido único e pessoal. Varda foi uma das poucas mulheres a se destacar em um campo dominado por homens e é reverenciada por seu olhar sensível e seu compromisso com temas sociais, feministas e humanistas. Inclusive, foi a primeira mulher a participar da abertura do Festival de Nova Iorque, em 1977. Varda tem uma seção inteiramente dedicada à ela no Mubi. Talvez sua obra mais famosa seja "Cléo de 5 à 7", mas quero recomendar aqui o filme “Uma canta, a outra não” de 1977. Fui completamente pega de surpresa e ouso dizer que senti até culpa em pensar no progressista que esse filme é ao mesmo tempo que pensava o quanto os anos 70 foram libertador para os direitos e equidade da mulher. Me senti culpada porque - ainda no meu processo de desconstrução - pensava: “Como essa mulher já tratava sobre essas pautas (aborto, sexualidade, trabalho) nessa época?”. Outro sucesso de Varda, uma ativista fervorosa não só do feminismo, mas do meio ambiente e de outras minorias, é “Os catadores e eu”, de 200, explorando o tema do desperdício e da reutilização, seguindo pessoas que recolhem objetos descartados. Se você, assim como eu, revira os olhos para muitos filmes que aparecem no catálogo da Mubi prometendo um dia voltar para ver um filme icônico, te aconselho fortemente a dar “play” em Agnes Varda. (SM)
O TEMPO PASSA, O TEMPO VOA: 1 ANO SEM CARNE
Um ano atrás eu contava aqui nesta newsletter que decidi deixar de comer carne e adotar uma dieta vegetariana. Muitos fatores, incluindo a Feganismo, são responsáveis por essa decisão. Contudo, talvez a principal tenha sido a questão da performance esportiva. Eu achei que fosse ser BEM mais difícil. Achei que seria impossível ficar sem comer sushi ou outras coisas que faziam parte do meu cotidiano, mas a realidade foi bem diferente. Desde que eu me tornei vegetariana, eu nunca mais pensei em carne. Depois de um ano, a mudança mais notável foi em minha saúde. Me sinto mais leve, com mais energia, minha performance no esporte melhorou e até a libido parece a de uma adolescente. Além disso, fiquei mais consciente sobre o que estava colocando no meu corpo e como isso afeta o meio ambiente. A cozinha também deixou de ser um “sacrifício” (sem trocadilho) e parece que a rotina ficou mais fácil e prático. Já que geralmente não preciso pensar em nada tão elaborado todos os dias. Vou variando os grãos, as formas de fazer tofu, comendo saladas de maneiras e sabores diferentes e tudo termina num bowl sempre muito cheio de comida saborosa. Acredite se quiser, mas também me surpreendi com a questão “social”. Achei que fosse ser difícil sair com amigos e me limitar a comer em lugares com pegada vegana ou vegetariana e a real é que eu sempre digo sim, quase nunca vejo o cardápio sem sair de casa, e aprendi que (quase) sempre tem uma opção que me atende. Digo quase, porque tem uns restaurantes que insistem em ter um cardápio todo voltado para o público carnívoro. Quando isso acontece, peço a salada sem a carne e pronto. Se você está considerando fazer essa mudança, recomendo começar aos poucos, experimentando novas receitas e sendo gentil consigo mesmo durante o processo. A jornada vale a pena! (SM)
A VERSATILIDADE DO TOFU
Taí outra coisa que na minha cabeça seria complicado de me adaptar: Tofu. Porém, é um dos ingredientes culinários mais coringa que há. Dá para transformar de várias formas, em creme, em queijo, em ovo. Existem duas maneiras que eu mais gosto de prepará-lo. A primeira é tipo um creme. Asso os tomates no forno só com alho até começar a ficar queimadinho e bato assim, quentinho no liquidificador. Tempero, jogo numa panela com grão-de-bico e pronto. Achei que fosse uma coisa só minha, só que cada vez mais aprendo que nenhuma experiência é individual e acabei encontrando com uma receita bem parecida lá no Instagram. A outra receita campeã para mim é cortar o tofu extra firme em cubinhos, passar numa mistura de levedura nutricional, páprica defumada e sal e levar para chapa com um pouquinho azeite para dourar. Doure todos os lados do tofu, até ficar bem firminho e pronto. Coloca no prato e pronto. Combina com qualquer coisa! (SM)
TEM QUE LER
“Eu raramente sonho. Mas quando acontece, acordo assustada, ensopada de suor. Então volto a me deitar, espero meu coração se acalmar, enquanto medito sobre o irresistível poder mágico da noite.”
A Porta da húngara Magda Szabó começa com a narração de um pesadelo recorrente e uma confissão: “...fui eu que matei Emerenc. Eu queria salvá-la e não matá-la, mas não faz a menor diferença.”
Publicada em 1987, a narrativa segue do ponto de vista de uma escritora que contrata Emerenc como sua empregada doméstica. A relação das duas é complexa e o tempo inteiro questionamos: que relação é essa? Amizade? Amor? Puro trabalho? Uma conexão estranha entre duas mulheres raras e inteligentes que nos confundem sobre as relações de poder.
Uma delas sofreu vários golpes da vida, tem uma personalidade muito peculiar e é uma trabalhadora doméstica e zeladora muito requisitada no bairro, a outra é culta e está conseguindo se destacar como escritora. A distância entre as duas reside muito além dos estudos, idade e classe social. É impressionante como a Magda construiu uma narrativa tão tensa e envolvente. Fiquei alucinada e não queria largar o livro. A Emerenc virou das minhas personagens favoritas e tenho recomendado como livro poderoso para refletir sobre trabalho doméstico e morte.
“Eu não sabia o quanto minha oferta a interessava, ela não necessitava nem de emprego nem de dinheiro, isso se percebia logo, a mim é que seria terrivelmente importante que ela aceitasse, porém, aquele rosto lacustre, sombreado pelo lenço que parecia um acessório ritual, demorou a expressar qualquer som. Nem quando finalmente respondeu ela levantou a cabeça: é possível que voltemos a conversar pois uma das casas em que trabalha se tornara um ambiente desagradável, o marido e a mulher bebem, o filho mais velho era um depravado, ela não quer mais ficar com eles. Se alguém nos recomendasse e conseguisse convencê-la de que nesta casa ninguém é briguento nem bebe, seria possível conversar sobre o negócio. Eu a ouvi, pasma, era a primeira vez que alguém exigia referências nossas.
– Eu não lavo a roupa suja de qualquer um – disse Emerenc.”
Descobri que tem filme e não tenho coragem de ver. Não quero estragar a experiência que tive de leitura - que foi maravilhosa! Duvido que filmaram a mesma Emerenc que eu imaginei.
Ah! Vale dizer também que essa obra prima está na lista dos livros preferidos da maravilhosa Elena Ferrante, autora que já foi foco de uma edição linda aqui na Feganismo (relembre aqui). (CE)
FOÁ E VERSÕES VEGANAS DE COMIDAS CRUÉIS
Curiosa e apaixonada por comida que sou, andei me aventurando em provar uma ousada versão vegana para o foie gras. Quem aí já comeu foie gras? Nunca vi nem comi, só ouço falar como essa é uma das comidas mais cruéis do mundo.
O foie gras (pronunciado fuagrá) [1][2][3] (do francês, foie gras, pronúncia [fwɑ gʁɑ], "fuagrá") – termo que em francês significa "fígado gordo" – é o fígado de ganso ou pato que foi forçosamente alimentado à exaustão, o que levou à hipertrofia lipídica do órgão. Junto com as trufas, o fuagrá [1] é considerado uma das maiores iguarias da culinária francesa. Possui consistência amanteigada e sabor mais suave em relação ao fígado normal de ganso ou pato. (Wikipedia)
Por que diabos você quer provar uma versão vegana pra uma comida dessa que você nunca provou na vida, Cassimila? Já falei: curiosidade. E também fui seduzida por essa lista linda de ingredientes: “castanha de caju orgânica, manteiga de cacau, cogumelos, missô, vinho, cúrcuma, pimenta preta e sal marinho.” Aqui em casa evito os ultraprocessados ao máximo e também os produtos de empresas gigantes que fazem coisas veganas sem deixar de matar animais. Tentamos comer o mais local possível. Enfim, o foá, alternativa vegetal ao foie gras, é feito pela Ecozy, pequena empresa paulistana que nasceu com foco em queijos vegetais a base de castanha de caju (maravilhosos, por sinal). Provar o foá deles me trouxe algumas reflexões dignas da nossa newsletter:
Afeto e comida são coisas inseparáveis. Buscamos as alternativas vegetais primeiro das coisas que mais comíamos e gostávamos. E não tem nada de mau nisso. Ninguém é menos vegano por gostar de comer churrasco vegetal, mas podemos ouvir muitos comentários desagradáveis com relação a isso por aí. A escolha pelo veganismo, sem crueldade, carrega um desejo coletivo de transformação das relações de violência da nossa sociedade da mercadoria e também carrega nossos gostos e afetos pessoais. Voltando pro afeto, aqui em casa o que mais buscamos são as alternativas vegetais aos queijos e vivemos numa época em que elas são abundantes inclusive na categoria clean label ( poucos ingredientes de alta qualidade, sem aditivos artificiais, corantes e conservantes). Viva!
A mente influencia demais no paladar. A primeira mordida em um pedaço de pão com foá eu não vou esquecer: se revirava dentro de mim a ideia do fígado, da doença provocada nos animais, do valor que se paga por isso, das ostentações de bilionários: que motivos, que sistema sustenta isso tudo e o que eu tô fazendo aqui? Não foi fácil, a mente agitadíssima, o sabor estranho, não conhecido, me provocou algumas caretas (risos). Mas é ruim o gosto, Cassimila? O que é um gosto ruim? Para cada um é diferente. Eu estranhei, mas a carga mental me fez estranhar mais. Se eles não anunciassem na embalagem a comparação com o tal do foie gras, se eles vendessem como um novo patê aleatório, muito provavelmente eu não teria careta nenhuma. Resultado foi que a embalagem ficou umas duas semanas aberta aqui na geladeira de casa (é pequena, viu), eu ia e voltava nela no meu ritmo e só agora no final (acabou hoje) eu posso dizer que consegui desfrutar desse sabor. =)
Aprender um sabor abre espaços na gente. O afeto é importante e o novo também é importante. Quanta gente você conhece que se fecha para provar o novo? Hoje mesmo conversei com a dona de um café sobre como as pessoas mostram preconceitos com o rótulo “vegano”. Como é a experiência do comer algo diferente para você? Para quem ainda pensa que veganizar é restringir possibilidades, eu volto a afirmar que nesses anos todos sigo descobrindo novos sabores e preparações. (CE)
NOTÍCIAS SOBRE O PROJETO DE LEI QUE PROÍBE A PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE FOIE GRAS NO BRASIL
O projeto 90/2020 foi aprovado em 2022, porém ainda não é lei. Deve ir a votação ainda nesse ano. A cidade de São Paulo chegou a proibir o foie gras, mas houve um problema jurídico, vale a pena ler mais sobre aqui. Curiosidade: o parecer favorável ao projeto de lei foi elaborado pela 1ª senadora mulher eleita pelo Distrito Federal, Leila Barros, mais conhecida como Leila do vôlei. Segue trecho do parecer dela:
“No projeto de lei em tela, é enfrentada a questão da alimentação forçada de patos e gansos. Porém, em próximos projetos poderão ser tratados a retirada da cauda de suínos sem anestesia, a superpopulação de aves em aviários e, nos bovinos, a marcação a ferro e a retirada de chifres (mochação).”
“é fundamental que o Congresso se pronuncie por meio de legislação federal que proíba a produção e a comercialização do foie gras e de qualquer produto alimentício obtido por meio de método de alimentação forçada de animais, alinhando-se à tendência mundial de ampliação dos direitos dos animais, garantia de bem-estar animal e mitigação de maus tratos a animais em processos produtivos e nas demais formas de utilização e convivência com o ser humano, sejam eles animais de produção, guarda ou companhia"
Fonte: Agência Senado
Estamos na torcida para que o Brasil entre para a lista de países que proíbem essa e outras formas de crueldade com os animais. (CE)
OBCECADA COM BANDAS SÓ DE MULHERES
Venho recomendar esse show lindo no meu amado Rio Vermelho, Salvador. Já conhece Sambaiana? (CE)
Oi mana! Adorando a news :) Por aqui vamos 4 anos de vegetariana e sigo firme e forte haha! Vc pensa em se tornar vegana algum dia? Esse é um sonho meu, mas ainda não comecei o movimento. Adoraria saber sua opinião beijoo