Alô vaquinhas do Brasil e do mundo!
Quem estamos de queixo caído com a ebulição global sambando na nossa cara? É 30 de abril e tem termômetro marcando 35ºC em São Paulo.
Vem com a gente!
Cassimila e Sarah
VACA PROFANA
Foi assistindo ao remake de “Sabrina”, aquele da Netflix, que ouvi o nome de Lilith pela primeira vez. Logo eu, crescida e criada na igreja evangélica, batendo ponto quase todo domingo na escolinha dominical, nunca tinha ouvido falar no nome da “primeira mulher de Adão”. Na série, ela é um demônio que abdicou do paraíso. Na Bíblia que conhecemos, o nome de Lilith é mencionado apenas uma vez. Muito embora, há uma passagem por Gênesis que gera dúvidas sobre a criação de uma outra mulher, anterior à Eva, no sexto dia de criação. Contudo, essa personagem aparece também na religião judaica e em relatos egípcios, hititas e gregos . Em todas elas, Lilith é uma mulher condenada de diferentes formas por não aceitar ficar “por baixo de Adão”, já que os dois vieram da mesma “forma”, são iguais. Uma mulher condenada por não seguir “a ordem natural” das coisas. Ela não foi criada de uma costela de Adão. Inclusive, existem escrituras mais antigas, como as do manuscrito do Mar Morto, onde ela aparece em uma canção. Acredita-se que a letra da música era usada para fazer exorcismos. O que termina sendo muito irônico: em algumas crenças, uma demônia, em outras, uma solução para proteger contra eles. A maneira em que ela é percebida também muda: em algumas, uma mulher fatal, em outras, um ser com facções andróginas ou, ainda, falam de seu comportamento, como um de práticas sexuais insalubres. Seja lá o que isso queira dizer. Se antes uma figura condenável, hoje um personagem da cultura pop, que caminha livremente por séries, filmes e até mesmo videogame, símbolo de feminilidade e força. Este link da BBC Brasil explica bastante sobre ela. (SM)
VACA PROFANA BÔNUS
Duas news atrás, naquela que falamos sobre cheiros, a Vaca Profana foi Cleópatra. E, para não deixar passar um feito tão grandioso hoje temos um breve “Bônus”. Recentemente, foram descobertos túneis considerados “milagres geométricos” debaixo do Mar Mediterrâneo, onde acredita-se que esteja enterrada a própria. A tumba de Cleópatra é procurada há séculos e foi motivo de caça até mesmo de Napoleão Bonaparte. Mas, o fato que me emociona mais nessa história é que a expedição está sendo liderada por uma arqueóloga dominicana, chamada Kathleen Martínez. Aqui, um pouco mais sobre suas descobertas. (SM)
O QUE ACONTECE QUANDO UMA MULHER TERMINA UMA RELAÇÃO?
“Eu não quero me separar de você”. “Essa é uma decisão unilateral e eu preciso respeitar”. “Mas, eu posso mudar”. “Me dê uma chance, posso começar a fazer terapia”. “E se a gente fizesse terapia de casal?”. “Mas, por que você não me falou tudo isso?” “Você tem outro?”
São essas algumas das frases que mulheres escutam quando dizem que querem se separar. Terminamos uma relação quando já passamos por todos os estágios do luto. Sim, nós vivemos o luto, o fim, antes da relação terminar. Cada uma tem o seu próprio tempo para viver o seu processo até aceitar que deu. E quando chega ao fim, você já tentou de tudo. Você já propôs terapia - aliás, geralmente, a mulher faz a terapia sozinha durante todos esses anos. Enquanto ele coloca pretextos, se sente diminuído por você ter tocado no tema. Ele não quer se separar. Ele não estava pronto. Ele não entendeu o quanto você foi clara todas as vezes que disse a ele que não estava feliz ou que precisava que ele cedesse. Ele disse que não entendeu os sinais. Não foram sinais. Foram palavras claras durante conversas sérias, as quais ele todo o tempo tratava de diminuir ou jogar a culpa em você. Finalmente ele entende, ainda sem aceitar, que a relação terminou. Ele diz coisas do tipo: você tem razão, eu agi errado. Eu me arrependo. Mas, me dê outra oportunidade. Não quero te perder. Ele te indaga porque você não pode dar outra chance, sem considerar que todos os anos que vocês estiveram juntos, ele teve todas as oportunidades. Quando você sai de casa, ele diz que sabe onde você foi morar, mas não por nada. Só porque ele precisa saber que você vai estar segura. Você diz que a agressividade que ele apresentou nos últimos anos é um dos motivos que te fazem deixá-lo. Ele oferece, então, assinar um termo de compromisso com você, no qual ele promete nunca te perseguir ou te incomodar. Esse tipo de coisa só te faz ter mais certeza da sua escolha. Logo ele, o cara que sempre condenava seus amigos que incomodavam mulheres, que se dizia feminista, aliado. Aquele mesmo cara que parou de falar palavrão que pudesse ferir uma mulher, como “puta”, “puta merda”, “vaca”, etc. Quando ele percebe que isso não vai fazer você mudar de ideia, ele diz que vai vender todos os móveis da casa. Que ficou sem nada. Que tudo o que ele investiu naquele “lar” não tem valor. Que o terreno que vocês estão (estavam, já não sabemos) comprando juntos - e você não quer nenhuma parte e está deixando-o para ele - é uma dívida. Você está saindo de uma relação e deixando-o sem nada. Ele joga na sua cara que ele precisa se capitalizar. O mesmo cara que nunca se preocupou em pagar uma conta de gás ou de água porque sabia que se ele não pagasse, iam cortar, e você resolveria. A casa não ia ficar sem gás. Você não ia deixar. Você o viu se acomodando nos últimos anos. Trabalhando menos. Enquanto você crescia no trabalho, pagava 80% das contas sozinha. Comprava os utensílios para casa, pagava a faxineira. Esse cara, agora, quando se vê sozinho, diz que precisa se capitalizar como se você tivesse tirado todo o dinheiro dele. Dias depois, ele aceita a separação e te dá uma cartada: você precisa vir hoje buscar o resto das suas coisas ou vou jogar fora. Você, então, com medo de vê-lo, diz que ele pode jogar fora. Vão para o lixo suas medalhas das provas de ciclismo, seu crachá do show da Taylor Swift, seus patins, suas xícaras. Tudo material, você pensa. Quando na verdade o valor afetivo de tudo isso era alto. Ele sabia disso. É a última forma que ele tem de te machucar. Ele escreve uma mensagem cortês se despedindo da sua família. Agradecendo por tudo. Seus pais, respondem. Você faz o mesmo. Não tem resposta da família dele. Nada. Um completo silêncio. Você pensa: não importa, quem escreveu a mensagem foi o Chat GPT. Só que importa. E muito. Mas, sabe? Isso diz muito mais sobre eles que sobre você.
Enquanto isso, um cara termina uma relação de anos com a namorada. Ele nunca mais escreve para ela. Ela aceita em silêncio. Apaga as fotos do Instagram, em respeito a ele. Com vergonha daquele passado. Ela nunca mais o procurou. A família dele, disse que ele fez a coisa certa. Já não estavam felizes e foi melhor assim. (SM)
PLANTAS NÍVEL EXPORTAÇÃO
Parece que a gente “cresceu” e se acostumou com alguns presentes da natureza “que só tem no Brasil”, sem parar muito para se perguntar de onde vêm, como é sua cultura/plantio e importância para as populações que crescem ao redor dessas 5 plantas que ganham o mundo. São elas o açaí, castanha do pará, cumaru, guaraná e seringueira. O jornal Nexo fez um infográfico muito especial e informativo sobre suas origens, incluindo até mesmo uma lenda sobre o açaí, que vale a pena passar um tempinho. No mínimo, além de incrementar seu conhecimento, te ajuda a conversar com algum estrangeiro que pensa que Brasil é só samba e bunda. (SM)
COMO BETHÂNIA ME LEVOU A COMPRAR UMA REVISTA DE MODA
Sonhei com a Bethânia. Sim, a Maria Bethânia. Sou devota desde que fui no primeiro show ao vivo. Eu via, ouvia e gostava, mas ao vivo veio a devoção. Como disse na edição passada, ainda bem que a presença em carne e osso ainda faz diferença, é insubstituível.
Marcada pelo segundo show ao vivo da Bethânia (em março desse 2024), próximo do grande banzeiro que me trouxe o encontro com Eliane Brum (pode ser legal ler nossa última newsletter aqui para ficar por dentro), venho contar meu sonho mais marcante, mais recente: Bethânia estava no meio da Floresta na Amazônia, comendo milho assado. Bethânia estava alegre, não era a Bethânia putaça e séria (com toda razão e força) que aparece no clipe “Canção para a Amazônia” (que só vim a conhecer depois do sonho). No meu sonho via uma Bethânia, que arrisco dizer, havia acabado de gravar um clipe mais no clima da Lia Sophia em Parece feitiço, alegre, serelepe. O milho também não era esse mais comum, parecia um milho mais ancestral, levemente colorido.
A força disso pode não ser óbvia para quem lê, mas, acredite, isso veio forte aqui e ainda vou falar disso no Tem que Ler que vem aí embaixo.
Enfim, atenta a tudo que Bethânia tem para contribuir, me encantei pela capa da revista Elle com ela e seu irmão. Me encantei com a ideia de ler essa entrevista e ter essas fotos grandes. Resisti, mas acabei comprando essa revista com valor de livro em lançamento e te falo aqui: putz grila a publicidade de alta moda não mudou nadica de nada em 20 anos. Mas, recebam uma pequena dose da riqueza verdadeira de Bethânia. (CE)
“O que tem alimentado você como artista? Discos, livros?
Olha, disco e livro é trabalho a ser feito. Então, preciso me alimentar de silêncios, de tempo, tempo jogado fora, ócio, para poder receber informações do meu íntimo, do meu profundo desejo Lendo, cantando ou escolhendo repertório, você já está atuando. Eu gosto de limpar o jardim. É a coisa de que eu mais gosto.”
TEM QUE LER
“O sonho é fruto dos desejos e intenções dos outros e a pessoa que sonha estaria mais acessível a essas vontades que lhe são alheias”
Estaria Bethânia armando um projeto musical amazônico? Estaria meu sonho prevendo uma amazônia poética e feliz, próspera e a salvo? <3
“Quase todos os sonhos, com exceção daqueles dos xamãs, tratavam de eventos que poderiam acontecer durante a vigília ou que já haviam acontecido no passado”.
Será que Bethânia já esteve serelepe pela floresta no passado?
Era ano passado quando li O desejo dos outros - Uma etnografia dos sonhos yanomami de Hanna Limulja. Já adoro o tema sonhos, e nesse livro senti como um salto nas possibilidades de relação com o sonho.
No livro, a Hanna que trabalha com os Yanomami desde 2008, além de narrar cenas do dia a dia, festas e rituais dos Yanomami, nos conta como através dos sonhos eles aprendem, estudam, socializam e fazem política, pois existem sonhos que são contados no centro da casa coletiva e discutidos pela comunidade. Um sonho muito diferente do nosso padrão, tema de terapia, ocupado por nós como indivíduos e nossas mercadorias.
“Ainda que sejam minoria em relação aos homens que falam no centro, as mulheres yanomami sempre falam; quando os homens estão no centro, elas fazem comentários e sugestões de modo que todos ouçam, e os homens, por sua vez, em geral os incorporam às suas falas.”
A seguir mais um trecho para despertar a curiosidade de vocês para esse livro tão rico e maravilhoso. (CE)
“Os Yanomami costumam contar seus sonhos de forma espontânea assim que despertam, ainda deitados na rede. Quem ouve são os parentes nas redes próximas, ao redor do mesmo fogo, em geral o cônjuge, os filhos, às vezes algum outro parente. Contam sobretudo os sonhos que causam algum estranhamento ou indicam um mau agouro mas também podem contar sonhos corriqueiros Se o sonho representa alguma ameaça à pessoa, ela não sai de casa de jeito nenhum, para não dar chance ao infortúnio pressagiado - o que não raro acaba desencadeando discussões conjugais, já que as mulheres dizem que muitas vezes os homens alegam ter esse tipo de sonho como pretexto para não ir caçar.”
QUEM COME QUIABO, NÃO PEGA FEITIÇO
E como eu não quero pegar feitiço de jeito nenhum, quiabo tá sempre na minha cozinha. O quiabeiro é uma planta de origem etíope e seu fruto é destaque especial na cozinha dos terreiros de candomblé.
Por aqui, faço muitas vezes um refogado simples, mas ando querendo voltar a fazer tipo caruru, com todo respeito, sem camarão. Não é difícil de encontrar assim, mesmo na Bahia, pois alergia a camarão e frutos do mar é algo relativamente comum (eu estou na estatística).
“O camarão tem como alérgeno a tropomiosina, que também foi reconhecida em ácaros e baratas, assim como em caranguejo, lagosta, entre outros.“ E a alergia pode ser grave a ponto de matar.
Enfim, renovando meu desejo por caruru, busquei pela internet receitas e trago aqui um balanço: tem receita com castanha, sem castanha, com amendoim, sem amendoim, com leite de coco, sem leite de coco, com limão, sem limão, com gengibre, sem gengibre, mas nunca sem azeite de dendê e quiabo. <3
Minha maior inspiração será: caruru de folhas da Dona Canô.
“O caruru de folha é igual ao caruru só de quiabo. Para ficar mais gostoso, juntar folhas de língua-de-vaca, de taioba, ou espinafre, aferventadas, escorridas e bem coradinhas ou batidas no liquidificador com um pouco de leite de coco, como se faz com o efó.” - Receita registrada no livro O Sal é um Dom – Receitas de Dona Canô.
E na versão vegana não precisa se preocupar de substituir o camarão, só tirando já fica tão tão bom. Nhammmm, salivando aqui. (CE)
DICAS EXTRAS
Visitei a Ocupação Maria Bethânia, exposição temporária em cartaz em São Paulo e te digo: falta acessibilidade, tem uns plásticos que não convencem no térreo, mas o 1º andar consegue emocionar os fãs, especialmente no bordado poético original da DIVA e no vídeo que é pra ver inteiro inteiro <3.
Amei essa análise da Paula Carvalho do meu filme preferido do ano, Pobres Criaturas (ou da nossa personagem preferida do ano?): “É na viagem que Bella encontra a liberdade, mas é nela também que a personagem se “civiliza””. Para a Paula, o caráter realmente subversivo da Bella Baxter “é o fato de ela não se ver como vítima em nenhum momento”. Vale demais a leitura. (CE)