Oi, !
Fazia tempo que não aparecia uma edição temática por aqui, não é mesmo?
Quando essas edições temáticas aparecem, pode acreditar, elas nascem de descobertas e conversas e mais conversas entre nós duas até que de tanto compartilhar uma com a outra, decidimos que tem assunto suficiente para falar com você também!
Dessa vez, compartilhamos um pouco de uma obsessão que tem estado em nossas trocas há mais de dois anos: perfumes. Na verdade, CHEIROS e como eles formam parte do nosso dia a dia, sendo um dos instintos femininos mais aguçados.
Bora usar esse nariz?
Xêro!
Cassimila e Sarah
VACA PROFANA
A primeira perfumista que se tem notícia foi Taputti, química, mencionada em cuneiformes encontrados na região da Mesopotâmia, em 1200 A.C. Ela desenvolveu técnicas para extrair perfumes e unguentos, os primeiros da história. Em 2022, os cientistas trataram de recriar o perfume criado por ela: uma mistura de flores, óleo, cálamo, junça-de-conta, mirra, rábano, especiarias e bálsamo. Não é nenhuma surpresa que a “invenção” do perfume como conhecemos hoje tenha sido uma iniciativa feminina, já que é cientificamente comprovado que as mulheres possuem mais de 2 mil neurônios olfativos que os homens. E, particularmente, para mim, é meu instinto mais desenvolvido desde que sou criança. A história do perfume está atrelada ao poder político da mulher. E outra personagem que usava o cheiro para se posicionar era Cleópatra. Não é preciso dizer muito mais sobre essa mulher, símbolo do poder e da conquista. O que talvez você, assim como eu, também não sabia, é que Cleopatra tinha um perfume único, que exalava poder e sedução. Cleo, para os íntimos, banhava seus navios com sua fragrância para que pudessem sentir que ela estava se aproximando de longe. Era um sinal, uma forma de se comunicar e firmar seu poder. Como era uma mulher em que poucos podiam se aproximar dela, usava do cheiro para que todos pudessem sentir sua presença. Aliás, em 2023, depois de pesquisas com utensílios da época que continham rastros dos seus perfumes, cientistas recriaram seu possível -e poderoso - cheiro: mirra, cardamomo, azeite de oliva e canela. Existem muito mais histórias sobre mulheres famosas e sua relação com os cheiros. Algumas delas, nesse espetacular episódio de Betwixt Sheets - Cleopatra to Jane Austen: Perfumes of Powerful Women. (SM)
EU VIM PARA CONFUNDIR
Quando eu era criança, vi uma tirinha da Magali no oftalmologista lendo aquelas letrinhas de exame de vista e, de repente, ela começa a falar nomes de comida: “arroz, feijão, batata frita”. Ela começou a sentir o cheiro da marmita do médico na sala ao lado e imediatamente começou a dizer o que tinha nela. Eu, bem pequena, achei essa historinha sensacional porque rolou uma identificação com aquela menina comilona na hora. Eu também era assim e podia sentir cheiros à distância. Tanto que quando saía para brincar na rua, sentia de longe o que preparavam de almoço em casa. Sentava na mesa, salivando (lembrando que a digestão começa pelo olfato). Daí para meu primeiro frasco de “Ma Cherie” não demorou muito tempo, né? Nesses quase 37 anos foram frascos e frascos de perfumes. Alguns repetidos por anos. Outros que precisei parar de usar por me trazerem lembranças ruins. Acontece. Sendo uma consumidora assídua da indústria perfumista é interessante ver o quanto ela tem se tornado mais abrangente. Desde colocar nas prateleiras perfumes “sem gênero”, os “compartilháveis”, quanto a investir em cheiros mais “terrosos”, ingredientes mais “naturais” e com o selo de “Vegano”. Porém, todo mercado tem suas nuances. Existem artigos e opiniões por aí que trazem discussões interessantes, como: “um perfume com ingredientes naturais, ou seja, sem elementos sintéticos, não seria mais daninho ao meio ambiente? Na lógica, o uso de recursos naturais exige mais cuidados, mais água e, inclusive, pode colocar em risco de extinção algumas espécies, como foi o que aconteceu com o sândalo de Mysore. Na outra ponta, a justificativa que elementos sintéticos podem evitar a degradação de elementos mais raros (que tornam o perfume único), como é o caso do âmbar Gris (o famigerado vômito de baleia). Além disso, existem certos recursos que compõem um bom perfume que podem fazer com que o odor fixe por mais tempo em diferentes tipos de pele (não, não é fixador, mas são elementos). São pequenas gotas que fazem a diferença. Não, cara leitora, aqui você não encontra uma conclusão se um perfume com mais elementos naturais é melhor para você ou para natureza. Aqui, eu quero te arrastar para algumas questões éticas que me encontro quando começo a me apaixonar por um novo cheiro. Tento consumir menos. Afinal, perfume é comunicação, é lembrança, é afeto, mas também é um item de luxo. Existem muitas marcas que estão tratando de pesquisar e produzir cheiros deliciosos de uma maneira cada vez mais limpa, como a Natura (sim, uma gigante da perfumaria brasileira) e a Amyi (marca brasileira de perfume de nicho). E se nada disso te convencer, ressalto que existe outra coisa maravilhosa: o cheiro de pele. Singular e intransferível. Aquele mesmo que fez com que Napoleão Bonaparte escrevesse para Josefina dizendo que chegaria a Paris no dia seguinte e, que, por favor, ela não se lavasse… (SM)
VEM METER O NARIZ NESSAS CURIOSIDADES
A palavra perfume vem do latim per-fumun, “através da fumaça”;
O homem de Neandertal já usava os cheiros das plantas para rituais funerários;
Pode-se entender a origem dos perfumes pelos incensos e defumações, e, na sequência, vieram os perfumes de base oleosa, ou unguentos, especialmente na região do Egito e Mesopotâmia;
A perfumaria já abundou em ingredientes de origem animal como secreções glândulares de cervo, castor e civet, e secreção estomacal de cachalote. Gostei de ler esse texto aqui sobre a experimentação desses aromas. Hoje já temos muitos equivalentes sintéticos;
O primeiro perfume à base de álcool foi provavelmente a Água da Rainha da Hungria, na época, final do século XIV, águas assim tinham caráter mais de remédio e tônico para a saúde do que de perfumaria pura e simples;
No Brasil somos grandes consumidores: cerca de 78% da população consome fragrâncias;
TEM QUE LER
"As instituições de controle trancafiaram as mulheres no profano, no pecado, na culpa e no medo. E nessa prisão estão a pulsão criativa, o sexo, as artes e os cheiros, isto é, tudo aquilo que nos impulsiona a sentir, gozar e sermos livres. E tal qual o cheiro, que é livre e perambula por onde quiser mesmo diante de todas as tentativas de mascará-lo, nós também seremos livres quando nos permitirmos sentir.”
O livro Mulheres Farejadoras surgiu a partir da pesquisa de doutorado da Palmira Margarida, especialista em história dos cheiros e das emoções. Resisti a me jogar nesse livro porque eu sigo a Palmira nas redes sociais (a rainha da perfumaria ancestral) há uns anos e tem conteúdos dela que eu amo (ervas, cheiros e etc) e outros que tenho preguiça (uma pegada meio coach e sagrado feminino). Acontece que no livro, até por ser uma pesquisa de doutorado, embasada e com análise de material histórico, eu li o que realmente me atrai no trabalho dela! Uau!
Palmira analisa como o processo civilizador modificou nossas concepções sobre o sentido olfativo a partir de uma análise da história, da higiene, do racismo, da ciência, contos de fada, e de escritos da virada do século XIX para o XX. Especialmente, gosto como no processo de pesquisa, ela acabou analisando o jornal pornográfico (ou gênero alegre) O Rio Nu - você pode conferir as edições do periódico digitalizadas por este link aqui. (CE)
"O anseio pelo controle fez com que o humano passasse não só a se distanciar dos próprios ciclos e a mudar seus comportamentos, como também, paulatinamente, a abusar e a violar os não humanos para lhes tirar o máximo de vantagens, enquanto se distanciava dos mesmos, fortalecendo o ideal de superioridade humana. Com o solapamento da integração com os ciclos naturais, os homens ficavam cada vez mais longe de sua sinuosidade, instinto, faro e intuição."
AMO E ODEIO
O quanto um mesmo aroma pode provocar paixão ou nojo em pessoas diferentes me impressiona. E o tanto que o cheiro pode ser tão diferente do sabor de uma mesma coisa? Para mim é o caso do café. Eu sou absolutamente apaixonada pelo cheiro de café (amigos próximos são convidados a me oferecer o café para cheirar), mas profundamente avessa ao sabor. Além disso, a única vez que consegui beber um café (não foi fácil mas rolou) eu fiquei doidona - como pode a gente ter tanto sono e não conseguir dormir? Ingerir café pra mim é pesadelo. Cheirar café é sonho. Recentemente, em visita ao Museu do Café em Santos, fiquei feliz em ver uma ala (fotos abaixo) toda dedicada à participação das mulheres na história do café (os museus estão se atualizando, viva!).





Um cheiro odioso para mim é de jaca madura. Já estou fazendo careta aqui só de lembrar. É tão tão forte esse nojo que eu nem consigo provar a fruta direito. Odeio jaca? De jeito nenhum. O veganismo facilitou meus caminhos rumo à paixão pela carne de jaca verde. Ai ai… chego a suspirar… A jaca verde não tem nada do cheiro da jaca madura e absorve muito bem os sabores dos temperos. Ah.. os temperos… esses tremendos cheirosos que nos trazem tantas memórias afetivas. A jaca verde cozida ou assada desfia lindamente, recheia coxinhas, pastéis na Chapada Diamantina, escondidinhos, lanches de carne louca, é uma maravilha! Fazer do zero é um pouco trabalhoso, eu confesso (as dicas da Luiza Mota no vídeo abaixo são incríveis), mas hoje é possível encontrar a carne de jaca verde já desfiada pronta para refogar na panela e finalizar. (CE)
A FANTÁSTICA GALERIA DE CHEIROS
Como a news é temática, não poderia faltar os nossos 3 perfumes do momento de marcas que consideramos éticas (ou quase) em sua produção:
Sarah:
amyi - 2.14 (Perfume)
Meu primeiro humor - Natura (Eau de toilette)
Isolda Cajueiro - Phebo (Perfume) *não contém ingredientes de origem animal
Cassimila:
amyi - 2.15 (Perfume)
amyi - III (Perfume) - viciada em experiências amyi, me esforcei pra escolher 2 da marca
sikkin girls (Perfume sólido) - da saudosa Lush (saiu do Brasil) que popularizou sacolas com dois coelhos (brincando ou lutando?) e o escrito “Fighting Animal Testing” (lutando contra os testes em animais)
Gente, que pesquisa maravilhosa 🧡