Olá, tudo bem?
Com essa edição com assuntos muito diversos, encerramos a primeira parte do ano, e o mês do Orgulho LGBTQIA+, com uma miscelânea de assuntos que só essa news nos proporciona.
Um beijo,
Cassimila e Sarah
VACA PROFANA
Majur Traytowu é a primeira mulher trans a ser nomeada cacica no Brasil. Sim, Majur substituiu seu pai como cacique por motivos de doenças em 2021. Ela é lider da comunidade indígena Boé Boro, no Mato Grosso, a alguns quilômetros de Cuiabá. A transição de gênero é vista com naturalidade pelo seu povo e em suas entrevistas, diz que costuma sofrer preconceito quando sai da aldeia e vai até a cidade. Apesar de ter assumido o posto de cacica sem uma eleição, como é comum na comunidade, ela participava das decisões da aldeia com seu pai desde quando era adolescente. Além de comandar seu povo - e lutar contra invasores em sua terra -, ela ainda é agente de saúde para povos indígenas e viaja o Brasil oferecendo palestras contando sua história. Ela, inclusive, foi tema de um documentário, que leva seu nome e você pode assistir completo no YouTube. Soa como uma super heroína, né? E é! (SM)
ONDE ESTÃO AS MULHERES CIENTISTAS?
Segundo uma recente pesquisa sobre equidade de gênero no ramo da inovação e pesquisa, 49% dos cientistas no Brasil são mulheres. O país é o terceiro lugar de mulheres ocupando este cargo, ficando atrás de Portugal e Argentina, com 52% ambos. Que plot twist, não é mesmo? As pesquisas lideradas por mulheres cresceram em mais de 20% nos últimos 20 anos. Entre os temas mais estudados estão psicologia, química, biologia molecular e imunologia. Os estudos referentes à matemática e engenharia ainda são liderados por homens. Apesar do crescimento expressivo nos últimos anos, estudos feitos por mulheres recebem menos atenção e são menos publicados e, sem nenhuma surpresa, menos citados por cientistas homens. Parece haver uma preferência dos homens para citarem outros homens. O que não é novidade. A pesquisa completa, em inglês, você pode ler aqui. (SM)
A LINHA TÊNUE ENTRE SER NARCISISTA E MIMADO
Estamos vivendo tempos interessantes em que encontramos uma pedra no caminho e ao levantá-la, ela te dá um diagnóstico de alguma questão mental que você tenha. As mais comuns, autismo e TDAH. Mas, também aparecem por aí os diagnósticos de sociopata e narcisista. Quem nunca disse que o ou a ex é narcisista que atire a primeira pedra. Eu já! Foi escutando esse episódio do podcast “Se regalan Dudas”, bastante popular aqui no México, que entendi que talvez o que eu pensava ser um transtorno narcisista é, na verdade, uma pessoa mimada. Isso porque, como o TDAH ou o autismo, esse tipo de transtorno requer avaliações muito mais profundas e sérias. Talvez, aquela pessoa do trabalho que goste de chamar atenção ou quer tudo do jeito dela não passa de alguém muito mimado. E é muito mais fácil lidar com ela do que você pensava. Compartilho com você o episódio “How to spot a narcissist in a relationship” (em inglês) para ficar por dentro e realmente entender como identificar alguém que é, de fato, um narcisista.
Ah, falando em narcisista, vale lembrar que não é um transtorno exclusivo de exs-namorados/maridos/rolinhos. Existem mães e pais narcisistas e compartilho a dica do livro “Estou feliz que minha mãe morreu”, de Jennette Mccurdy, uma ex-atriz mirim da Nickelodeon, que conta como cresceu num lar com uma matriarca narcisista. (SM)
FOTOGRAFIA É COISA DE MULHER
Estive presente em uma mesa chamada Livre e Infinito, em homenagem a Claudia Andujar, na Flip de 2022 e desde então estou com esse tema para colocar aqui. Vou apresentar abaixo as mulheres que me marcaram nesse papo sobre o respeito no captar a imagem do outro, o envolvimento com quem se fotografa. Nunca tinha pensado sério nisso, e me envergonhei das fotos que tirei de pessoas pelo mundo, sem perguntar seus nomes, sem pedir com licença.
No domingo passado visitei a exposição Claudia Andujar - cosmovisão no Itaú Cultural de São Paulo e era a conexão que faltava para vir exaltar a fotografia de mulheres que sabem compor arte e ética: “não é não na fotografia também” como bem disse Nay Jinknss.
Claudia Andujar: essencial na demarcação do território yanomami, é uma mulher de história, técnica, talento, bagagem incrível. Sou especialmente fã das sobreposições que a levaram a uma série que retrata os sonhos e rituais yanomami (já leu o tem que ler de abril com o livraço da Hanna Limulja?).
(Foto da foto na Exposição no Itaú Cultural, aproveitando a sobreposição extra do meu reflexo e das fotos na parede oposta)
Nayara Jinknss: artista visual paraense que evidencia corpos dissidentes, à margem, profundamente consciente das dinâmicas racistas que dominaram a fotografia até hoje. Belíssimas fotos no mercado do Ver-o-peso. Vale a pena ver esse pequeno vídeo com fotos incríveis e ela se apresentando. A seguir, a foto Urubu quando nasce é branco, de 2021.
Nair Benedicto: mais uma fotográfa conectada, ativista e brilhante para a nossa seleção. Aqui “Fé Menina”, um pequeno documentário sobre a fotógrafa. Sou encantada pela série de forró.
(Foto Tesão no Forró de 1978, da Enciclopédia Itaú Cultural)
E aqui a mesa da Flip que mencionei, vale a pena ver a partir dos 40 minutos. Ali por volta da 1h13min a Nay, brilhante e corajosa, tece uma crítica imperdível ao famoso Sr Salgado. (CE)
PAPÉIS DE GÊNERO NA DANÇA
A famosa canção dançante que errou desde o início diz “só não pode dançar homem com homem e nem mulher com mulher”. Vale tudo sim, e queremos liberdade e segurança para dançar com pessoas, não importa o gênero! Verdade que dançamos livres mais facilmente em festas juninas descoladas que em bailes de forró, é verdade. Quem nunca ficou esperando o homem chamar pra dançar no baile?
Trazemos a fé no caminho de mulheres que não se contentam com o papel de serem conduzidas nas danças de salão e querem conduzir. Já pensou: por que não? Olha o patriarcado no meio da nossa diversão, escancarado nas danças de salão. Socorro! Vem conhecer esse projeto bonito demais chamado Forró das Bonita e bora aprender a conduzir! (CE)
A MELHOR LASANHA QUE EU JÁ FIZ
Tive uma longa fase de vício em fazer lasanha de berinjela, com dois molhos: branco e vermelho. Eu amava, ainda amo, mas num dia de ousadia experimentei fazer essa lasanha do meu canal favorito de receitas: Larica Vegana. É realmente perfeita na essência. Fiz minhas adaptações, pelo que eu tinha na geladeira, e dou duas dicas aqui: 1. não precisa de funghi, usei um pouco de shoyu no lugar e 2. rola de usar grão de bico no lugar da ervilha. Minha nova lasanha favorita. (CE)
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TEM QUE LER
“Maria Teresa parou em frente ao boi vivo e arrancou sua careta. O animal perdeu seu sentido controlado de direção, mas não tinha mais como escapar. A mulher achava justo que a morte se apresentasse de frente. Quando ela encarava o boi, o sangue da vida ainda corria quente por baixo da sua carcaça.
Ambos entendiam a hora chegada. A vontade da mulher era dar vazão à sua mágoa. A vontade do animal, agora preso para o abate, um dia havia sido escapar.”
Mata Doce! Uau! O primeiro romance de Luciany Aparecida é um sucesso de linguagem, personagens e público. A capa já vinha me atraindo e li com meus amigos do Clube Pássaro Livre. Paixão unânime entre nós. Um aconchego de história cheia de amor e luta, que me afeta muito pela proximidade das histórias que meus pais contam da minha família. Tem cachorro, tem um lindo e firme casal de mulheres poderosas, tem adoção, tem engravidar por estupro, tem Maria Teresa: que vira Filinha Mata Boi depois de uma tragédia. Esse começo tão preciso ao mesmo tempo que escandaliza o matar um boi (veganas, vegetarianas ou sensíveis a causa animal já vimos documentários suficientes sobre o terror que é a matança de animais em escala, mas quando vimos uma mulher matar assim? olhando de frente?), fascina pela construção dessa personagem mulher invadindo um mundo de macho. Bonito demais, gente. Delícia de ler e ainda tem homenagem ao Úrsula, da Maria Firmina dos Reis, que emocionou demais aqui. (CE)
“Em Mata Doce, matar boi era tradição de homem. Mas naquele alvorecer, Maria Teresa estreava uma nova tradição.”