Oi, !
Talvez essa seja uma versão que sintetiza um pouco de tudo o que a gente acredita e quer inspirar pela Feganismo. A vida corre, passa rápido e, por aqui, a gente se adapta como pode para entregar conteúdo maravilhoso. Nosso compromisso com você segue firme!
Cassimila e Sarah
VACA PROFANA
Quando alguém diz que a moda é um assunto fútil, me sinto como a própria Miranda, de Diabo Veste Prada, revirando os olhos. Moda é expressão de sentimentos. Moda é linguagem, é política. Existem tantos personagens interessantes que podem provar isso e hoje, quero apresentar a você, Florinda Anna do Nascimento, Dona Fulô. Não! Dona Fulô não se resume a nome de franquia de restaurante ou de brechó. Essa personagem é muito importante para a história da moda brasileira da mulher negra. Dona Fulô foi uma escrava alforriada, que juntamente a outras mulheres negras, usavam saias longas com rendas, turbantes e joias no seu dia a dia. Elas carregavam também um artefato que chamavam “pano-da-costa”, que estava quase sempre sobre os ombros, e era delicadamente costurado e bordado. Florinda Anna bordava seu “pano-da-costa” com motivos africanos para relembrar seus antepassados que vieram da África. Algo que aprendi lendo sobre Dona Folô ou Fulô (as duas maneiras de escrever são encontradas na literatura), é que alguns escravizadores mandavam fazer joias em ouro maciço para que as pessoas que escravizavam usassem como forma de ostentar sua riqueza para a sociedade. Dizem que muitas dessas joias foram guardadas por mulheres escravas para pagar pela sua liberdade e conseguir sua carta de alforria. A maneira que Dona Fulô se vestia criou uma identidade para as mulheres negras da época e seus trajes estão expostos no Museu do Traje e do Têxtil no Instituto Feminino da Bahia. Encontrei muitos trabalhos acadêmicos sobre Florinda Anna do Nascimento que considero ricos e imprescindíveis para compreender mais sobre o assunto e esse espaço fica pequeno para a grandeza dessa caixa de Pandora. Algumas recomendações de leitura: Narrativa de Vida das Mulheres Afro Brasileiras; As roupas de crioula no século XIX, e o traje de beca na contemporaneidade: uma análise museológica1; Moda Afro-brasileira: o vestir como ação política. (SM)
O TRABALHO REMOTO COMO TRAMPOLIM PARA A EQUIDADE DE GÊNERO
Talvez o título que eu tenha dado para esse texto seja muito positivo. Contudo, a pesquisa realizada pelo IWG, instituto que é líder global em espaço de trabalho flexível, seja aquela ponta de esperança que precisamos hoje. O estudo aponta que 53% das mulheres que trabalham em regime híbrido (presencial e remoto) buscaram promoções ou se candidataram para cargos mais altos, sendo que 61% delas são de minorias étnicas. A possibilidade de trabalhar de maneira mais flexível tem resultado encorajador para as mulheres. O estudo é bem importante e traz muito dado legal. Vale a pena ler - e se inspirar. (SM)
COMIDA DE PÁSCOA PRO ANO INTEIRO
Na dúvida, corro pra Luísa Motta porque ela parece acertar todas! Como pode?! Hoje aqui na Páscoa rolou essa bacalhoada e eu tô chocada de tão maravilhosa, foi sucesso com a família e meu buchinho tá muito feliz! (CE)
(HUMILHAÇÃO) Bacalhoada VEGANA Pisou na TRADICIONAL (Desfiada e Gratinada) 🤤
TEM QUE LER
“Banzeiro é como o povo do Xingu chama o território de brabeza do rio. É onde com sorte se pode passar, com azar não. É um lugar de perigo entre o de onde se veio e o aonde se quer chegar.”
Assim começa o capítulo “11. onde começa um círculo?” de Banzeiro Òkòtó - Uma viagem à Amazônia Centro do Mundo, de Eliane Brum. Num passado desbanzeirado, esse capítulo seria o primeiro, mas nesse livro as ordens todas são desafiadas e experimentamos outras possibilidades. Outras palavras, outros pontos de vista, caminhos de atravessamento guiados pela grande escutadeira que é Eliane.
Eliane já apareceu bastante por aqui, porque sim sou fã, mas é a primeira vez que leio um livro dela. Banzeiro já me pegou faz tempo. O livro é de 2021. Dei de presente para um amigo querido era 2022 e já estava com medo. Eliane diz que desde que se mudou para a Amazônia (ela mora em Altamira desde 2017), o banzeiro se mudou do rio para dentro dela, e eu te digo que lendo esse livro o banzeiro vai se mudar pra dentro de você também. Na verdade, o banzeiro se mudou definitivo para dentro de mim quando vi Eliane ao vivo, era 7 de fevereiro de 2024, e ela entrou no palco do Sesc Vila Mariana e começou a falar com Gení Nunez. Você pode conferir essa conversa aqui no YouTube. Difícil sair ilesa. Eu lia matérias dela, via vídeos, mas o encontro ao vivo com certas pessoas ainda carrega magias, ainda bem!
Esse livro é tanta coisa que nem sei como trazê-lo aqui, mas apresento a tentativa. É um livro denso e poético, bem escrito e emocionante, é relato pessoal e jornalístico, é o mais preciso que se pode fazer com palavras que deixam tanto a desejar diante de grandiosidades. Algo assim…
Vou tentar fazer alguns destaques do conteúdo:
Ali pela página 17, Eliane pegou de jeito o tema da branquitude: “O que desejo trazer para este livro é um conceito que criei a partir desse confronto com minha condição de branca num país estruturalmente racista. O conceito de “existir violentamente”. (...) E a experiência de existir violentamente, ou de ser violenta mesmo sem ser violenta, é algo que sempre me corroeu. (...) Mas há algo que posso escolher, que é lutar para que meus netos possam viver num país em que um branco não exista violentamente apenas por ser branco. E para isso eu preciso escutar. E, principalmente, perder privilégios. Umas das questões mais cruciais diz respeito a quanto estamos dispostos a perder para estar com todas as outras pessoas. Porque os brancos precisarão perder para que o Brasil se mova, para que o mundo se mova.”
Amazônia Centro: especialmente me marcou o capítulo “2. o clítoris e a origem da floresta”, o tantoooooooo que ainda vemos o conceito da floresta como “virgem” por aí.
Antiespecismo: Eliane não só entende todos os que comumente chamamos animais, natureza e até fungos e árvores como gente e participantes do mundo, como também usa o termo “não humanes” no começo e evolui para “mais que humanes” mais pro final do livro. Achei um super jeito de inclusão e chamamento para a consciência;
Apocalipse é o meio: Eliane Brum, na dedicatória que tive o prazer de pedir ao vivo no mesmo 7 de fevereiro, me escreve que banzeiro é o nome do tempo que nos foi dado viver. No livro tem muita lucidez sobre o colapso climático, a guerra que vivemos, e caminhos de travessia que podemos aprender com os povos indígenas e com jovens ativistas das brabas. (CE)
“O futuro depende da nossa capacidade de transformar radicalmente o modo como nossa espécie se coloca em relação a si mesma e ao que chama de natureza. Para isso é preciso gerar não só outros conhecimentos, mas outra estrutura de pensamento e até mesmo outra linguagem.”
LOOKINHO DE ESPERAR O FIM DO MUNDO
Você provavelmente viu a polêmica apocalíptica de Carnaval entre Baby do Brasil e Ivete Sangalo. A partir dali, Dona Rita Von Runty nos dá uma perfeita aula sobre narrativas de fim de mundo, negacionismo e etc. Perfeição! Esse vídeo tem tudo a ver com o nosso “tem que ler” do mês, né não? (CE)
Chega aqui nessas newsletters amigas da Fega:
Outras Mamas agora tem newsletter e “O veganismo saiu de moda?” tá imperdível;
A super Vanessa Guedes escreveu sobre “Capitalismo, Democracia e outras drogas”;
“É possível ser feminina e feminista?”, texto brilhante da Gabi Albuquerque! (CE)
Niguém passa incólume por esse livro (ainda bem)! Hoje mesmo passei como se tivesse um rio tormentoso aqui por dentro, mas parafraseando a Donna Haraway, só dá pra viver com terror e alegria (às vezes pendendo mais prum lado, às vezes pro outro)
Obrigada por essa edição 🧡