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Nessa mesma semana em 2019, nós fazíamos uma viagem inesquecível juntas por um México vibrante pelo Día de Muertos.
Nessa mesma semana em 2020 a gente resolvia começar uma newsletter juntas.
E agora comemoramos 3 anos de newsletter com uma edição especial demais, pra variar.
Vem aí, se preparem: 3 freiras e muita inspiração!
Abraços,
Cassimila e Sarah
VACA PROFANA
Ser freira e feminista parecem coisas opostas. Ainda assim, é possível. Tão possível que num país machista - e católico - como o México, imprimiu na sua cédula de 100 pesos, a figura de Sor Juana Inés de la Cruz, conhecida como a primeira feminista da América Latina (e freira). É confuso, eu sei. Assim como a América Latina. Pois bem, falemos de Sor Juana, que viveu no século XVII e, segundo sua primeira biografia oficial, aos três anos de idade começou a se alfabetizar. Nunca conheceu o seu pai e sua mãe teve um relacionamento com um capitão, outros filhos, mas nunca se casou oficialmente com ele. Foi na biblioteca de seu avô que se internava e mergulhava no mundo dos livros. Uma curiosidade é que ela não comia queijo porque naquela época diziam que o lácteo “emburrecia”. Quando completou 7 anos, Sor Juana pedia à sua mãe que a mandasse estudar nas escolas e universidades da Cidade do México, mesmo que vestida de homem. Aliás, as universidades no México só passaram a aceitar a presença de mulheres no século XX. Naquela época, as mulheres só tinham dois destinos: casar ou se internar num convento. Mesmo sem nenhuma vocação religiosa, Juana elegeu a segunda opção. Era uma forma que encontrou de poder estudar e escrever poemas, algo que amava e que a deixou conhecida. Aliás, compôs algumas peças e hinos para celebrações de liturgias e com isso passa a receber prestígio e também doações monetárias. Sua fama passou a incomodar os homens dizendo que ela parecia ser um deles e, como não é de se admirar, o padre que a confessava termina dizendo que ela deveria se ocupar menos com questões seculares. Inveja, será? A noviça rebelde realmente não se importa e suas obras começam a ser cada vez mais ácidas e críticas ao sexo oposto. Em seu auge é protegida dos virreyes, o que a permite seguir escrevendo suas sátiras. A publicação do seu primeiro poema na Espanha foi uma benfeitoria de uma viscondessa e amiga e dizia: Ser mulher, nem estar ausente, não é um impedimento te amar, pois você sabe que as almas ignoram a distância e o sexo. O poema foi dedicado a Platão, que considera as mulheres insuficientemente racionais. Ela passa a escrever mais e mais e suas palavras ganham notoriedade também no país colonizador. Seus escritos têm a complexidade e formalidade jamais vista em língua espanhola até então. Em 1686 os virreyes que a apoiavam perdem poder e os novos não tinham o senso cultural que ela carecia para seguir produzindo. Sor Juana passa a ser limada por um novo arcebispo, conhecido por “detestar as mulheres”. Em 1691 escreve seu último hino e entre 1692 e 93 vende toda sua biblioteca, ferramentas de estudo científico e instrumentos musicais. Sor Juana morreu em 1695, vítima de uma epidemia.
Seu último hino, merece menção:
De una Mujer se convencen/todos los sabios de Egipto,/para prueba de que el sexo/ no es esencia en lo entendido./¡Víctor, víctor!/Estudia, arguye y enseña,/y es de la Iglesia servicio,/que no la quiere ignorante/El que racional la hizo. (SM)
MAIS DUAS FREIRAS PRO SEU CORAÇÃO <3
Semana passada estive numa conversa incrível promovida pelo Sesc Avenida Paulista com duas freiras e um grupo de teatro que já as homenageou em montagens distintas. O nome certo para as duas divas na verdade é cônega, mas no popular vale freira também. Ivone Gebara e Maria Valéria Rezende se conheceram lá pelos seus 20 anos e ficaram grandes amigas. Maria Valeria já esteve aqui nessa news no nosso niver de 1 ano, pois escreveu um dos meus livros preferidos: O Voo da Guará Vermelha (lembre clicando aqui). Naquela época não me chamava a atenção sua história como freira. Ivone pode já ter chegado nos seus ouvidos como a freira feminista e a favor da legalização do aborto.

Pois então, as duas entraram na mesma Congregação de Nossa Senhora - Cônegas de Santo Agostinho respondendo a pergunta ainda comum nos anos 1960 no Brasil: vai casar ou virar freira? Ivone estudou em colégio e faculdade de freiras, e achava aquela vida muito mais interessante que a vida limitada de família, como a de sua mãe e sua avó. Maria Valéria, sendo a mais velha de seis irmãos, já tinha cuidado o suficiente de criança e não tinha interesse nenhum em casar, queria mesmo era “correr mundo” influenciada pela convivência com Patrícia Galvão (a Pagu) e pelos cartões postais de seu primo correspondente internacional. Ser missionária era mais adequado a esse sonho.
Ambas escolheram ser freiras num mundo em que essa era a melhor opção para mulheres com interesse em estudar, viajar e participar do mundo, paralelo a zero interesse em ter filhos. Ambas seguem ativas perto dos 80 anos. Ambas têm muitas histórias para contar de tudo o que viveram e ouviram nas suas andanças como educadoras populares fazendo parte de um Brasil inteiro.
Entendi ouvindo essa conversa que sendo contemporânea das duas eu muito bem podia ter sido freira, e isso de jeito nenhum seria um pesadelo. Aliás, invejei grande quando a Ivone destacou que a Congregação tinha “respeito pela liberdade e originalidade de cada uma”.
Ivone sempre questionou a ideia de Deus, Deus é pai, trindade e etc. Ela diz que aquelas ideias “não passavam pelo meu corpo”, “essa dúvida sempre me atravessou”. E foi com dúvida mesmo que ela se fez uma grande filósofa e teóloga feminista. Segundo ela mesma, seus escritos são um convite para as pessoas pensarem e inspiram coragem: “a vida de hoje merece ser pensada, não só a de ontem.”
E Maria Valéria… ahhhh Maria Valéria. Maria Valéria cresceu em berço de ouro cultural em Santos/SP e se jogou numa história de militância Brasil e América Latina afora, resistindo na época das ditaduras, sendo educadora popular que valoriza sobretudo o poder da pergunta, propagando consciência política. Tudo isso veio a desaguar na literatura, sem muito planejamento, mais por uma armadilha de amigos, ela publicou pela primeira vez aos 60 anos.
Vale muito saber mais sobre Ivone aqui nessa entrevista escrita que inclusive fala sobre a penalidade que ela sofreu por parte da Igreja Católica por se declarar a favor da legalização do aborto.
Vale muito saber mais e ler mais Maria Valéria Rezende; quem sabe te inspiro mais aqui nesse TikTok. (CE)
TRANSIÇÃO PARA O VEGANISMO #9 - TRANSFORMAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA
A Bienal de Arte de São Paulo este ano avançou e muito em parceria com o Movimento Sem Teto do Centro para ocupar a cozinha. E todo dia tem opção vegana! Viva! Se é estranho para você essa aproximação de movimentos populares com o veganismo, chegou o momento nas suas andanças antiespecistas virtuais de se encontrar com as duas grandiosas: Sandra Guimarães e Sabrina Fernandes. As duas são ativistas veganas que vão te ajudar a tomar consciência política sobre o veganismo. Foi com elas que fortaleci meu posicionamento relacionando as opressões que vivemos (além da relação feminismo-veganismo que vemos com a Carol J Adams) - considerar animais inferiores, assim, como mulheres, negros, lgbtqia+, palestinos, muçulmanos, indígenas, por aí vai. Como diz Sandra, cada opressão tem suas particularidades, mas todas estão conectadas. Alguém se acha superior e com direito a ter poder sobre o outro. Nessa, muitas vezes, chamam de “animal” grupos de pessoas que querem matar (ou seja, matar animal tudo bem). O caminho é lutar pela igualdade e liberdade de todes. E cozinhar é ato revolucionário. Nessa sede de poder muitas vezes temos nosso poder de escolha e autonomia com a alimentação ceifado, no cenário mais ordinário temos agrotóxicos e surra de industrializados, especialmente para a população mais vulnerável.
Quer aprender mais sobre o caso da Palestina, vegan washing e etc? Vem nesse vídeo com Sandra que dura 50 minutos mas passa voando de tão maravilhoso: PALESTINA E VEGANISMO?!?! O que uma coisa tem a ver com a outra?!?!!
E vem fazer uma aula com a Doutora Sabrina, 8 minutinhos de sabedoria Pra vegano conhecer o ecossocialismo | 020 e tomar rumo! rs (CE)
MINHA EXPERIÊNCIA USANDO O SUCO
Já contei por aqui que me tornei vegetariana recentemente e como foi tomar essa decisão, “contrariando” de vez o que muitos profissionais me recomendaram até essa altura da vida. Uma questão para mim é a dificuldade do meu corpo ganhar músculo. Anos comendo quantidades absurdas de carne (com aval dos profissionais) e o que aumentava mesmo era a gordura inflamatória. Três meses depois dessa mudança, além de me sentir menos cansada no fim do dia, ter mais ânimo e potência para treinar, ganhei 4 quilos de músculos e, finalmente, diminuí consistentemente a gordura do abdômen (o que nunca antes). Um dos segredos dessa transformação que, novamente, não é dieta, mas um estilo de vida, é o suco. E aí, se você caiu nesse clickbait tiktokeiro, peço desculpas hehehe. E se você não tem ideia do que eu tô falando aqui, eu explico: o termo “suco” ficou conhecido no TikTok depois que um criador de conteúdo viralizou avaliando o corpo de alguns marombas e dando o veredito se usa ou não anabolizantes (que ele chama de “suco). Calma! O suco que eu quero dizer é literal e não tem nada daqueles sucos verdes gratiluz. Eu passei a tomar muito suco depois que virei vegetariana e vim aqui compartilhar com vocês algumas combinações que eu simplesmente amei!
Limonada de beterraba: essa é minha preferida! Sumo de dois limões, uma beterraba cozida média, pitada de canela e pode adoçar como você achar melhor. Bate no liquidificador, coloca uns gelinhos e boa!
Limonada de pepino: dois limões inteiros sem semente, pepino, gengibre em pó, hortelã e adoçante de sua preferência. Perfeito para o calor!
Suco de manga e cenoura: sério! Fica de outro mundo. Faz no olhômetro mesmo, sem medo!
Suco de morango com kiwi: não tem segredo, só a certeza que é muito bom!
Melão com canela: taí outra combinação que não esperava nada e entregou tudo! Se o melão estiver bem docinho, nem precisa de adoçar artificialmente.
Suco de tamarindo com limão e canela: se você encontrar a polpa congelada e natural é mais fácil fazer com ela. Coloca meio limão, gelo, canela e algo para você adoçar porque o tamarindo é bastante ácido. Mas, prometo que é muito refrescante! (SM)
TEM QUE LER
Uma mulher nasce sabendo como não ser mãe.
Sabrina Dalbelo é uma poeta gaúcha cheia de carisma que tive o prazer de conhecer virtualmente. Seu mais novo livro, AB CENA integra a coleção Quem dera o sangue da Editora Urutau e arrasou demais no tema e formato. Cada página apresenta uma cena/poema - a proposta é intergênero, como diz Lilian Sais na orelha do livro - e o espaço em branco nos permite viajar por possibilidades e memórias. É de devorar e reler depois pra mergulhar melhor. (CE)
Uma mulher jaz ainda jovem, e sobre seu túmulo ressecam as mesmas rosas vermelhas que ganhava no dia da mulher.
Uma mulher come uma maçã sob a árvore e não fica saciada.
VEM CÁ VALORIZAR!
Teve prêmio para Sumaúma e você precisa se emocionar com o Discurso de Catarina Barbosa no Prêmio Vladimir Herzog
Não quero ter filhos e ninguém tem nada com isso é o lançamento da Bruna Maia, amo <3
Apaixonada por Sona Jobarteh, artista fantástica e carismática, a primeira mulher de sua etnia no Gambia a tocar o instrumento kora. Durante o show aprendi que ela compôs músicas em homenagens às mulheres (ainda com tanto a conquistar), ao seu pai (por ter sido o primeiro homem que passou a tradição para uma mulher, homens bora participar da luta!) e ainda ressalta que quem compõe precisa cuidar do conteúdo de suas canções, pois isso afeta o mundo. Affe, que mulher! <3 (CE)
Nossa, que interessante ver com outros olhos esse lance das mulheres serem freiras no passado. Isso jamais tinha passado pela minha cabeça. Adorei! E adorei as receitas de sucos!
Adorei a newsletter, a Sabrina Dalbelo é maravilhosa mesmo, já garanti meu AB Cena!