Oi, !
É corre atrás de corre, mudança atrás de doidera, mas nós estamos aqui: mensalmente trazendo conteúdo e reflexões pra vocês. É uma alegria e realização pra gente!
Abraço,
Cassimila e Sarah
VACA PROFANA
Se tem algo que eu tenho procurado corrigir a rota do meu pensamento é essa romantização da mulher guerreira. Sempre que vejo uma história de “mulher que sofre para conseguir alguma coisa” como algo bonito, eu trato de mudar meu mindset na hora. Afinal, por que temos essa ideia de que para que a conquista valha mais é preciso ter sofrimento? E foi exatamente isso que pensei quando me deparei com a história da Enedina Marques, primeira engenheira negra formada no Brasil. Matérias, textos e vídeos que falam sobre sua vida reforçam que Enedina foi empregada doméstica, trabalhava em troca de estudos e o quanto ela foi esforçada para conseguir se formar aos 32 anos. Então, meu intuito em homenagear Enedina nessa edição não é romantizar sofrimento ou o sentimento de meritocracia, de “nossa, ela mereceu porque se esforçou”. Quero deixar registrado que a primeira mulher negra a se formar numa Curitiba ainda mais elitista fez grandes obras, como a Usina Capivari-Cachoeira, o Colégio Estadual do Paraná e a Casa do Estudante Universitário de Curitiba. Enedina recebeu honrarias no estado do Paraná pela sua atuação quando se aposentou, em 1962 e veio a falecer em 1981, aos 61 anos. (SM)
ÍCONES FASHION DA SUSTENTABILIDADE
Esse título é apenas para gerar curiosidade para você ler este texto (hehehe). Não quero me comprometer exaltando marcas de roupa, uma das indústrias mais poluentes do mundo. Mas, porém, todavia, entretanto…tem algumas iniciativas que são legais ficarmos de olho. Como a marca “Patagônia”. Apesar do nome, é uma marca estadunidense fundada nos anos 70 por um cara, digamos, aventureiro. Começou com a criação de equipamentos para escalada e nos dias atuais vende peças para diferentes tipos de esportes, que ajudam a manter a performance em climas intensos, frio ou calor. Se você der um Google no nome do seu fundador, Yvon Chouinard, vai encontrar muita coisa, mas o que me chama a atenção são os títulos ou destaques que ele recebe nos textos. Algo como “bilionário que odeia riqueza”. A empresa de Chouinard, desde os anos 80, destina 1% do lucro para organizações ambientais. Em 2023, este senhor resolveu doar todas as ações da Patagônia a um fundo de proteção e defesa do meio ambiente. Ah, a doação gira em torno dos U$3 bi. Além disso, a marca tem investido em “techwear”, ou seja, tecidos mais tecnológicos, que não molham, se transformam, sem deixar de ser funcional. Uma dessas grandes inovações é o uso de poliéster reciclado, oriundo das garrafas PET verdes, em suas peças (ganhei uma em dezembro e posso dizer que 0 defeito no que ela se propõe). Outra surpresa recente quando o assunto são atitudes para diminuir o impacto sobre o meio ambiente, é a Levi’s, que ficou em segundo lugar (depois da Patagônia), no relatório “Circular Fashion Index”, que lista as empresas mais comprometidas com a circularidade. Ah, e outra surpresa que tive essa semana também foi a Zara. Ao parecer, a empresa que era viciada em aparecer em polêmicas envolvendo trabalho escravo, tem tomado atitudes para ser mais “sustentável”, entre elas, investindo em materiais mais duráveis e com menos impacto ao meio ambiente e cortando a terceirização da contratação de confecções para ter mais controle sobre sua produção. Seria o fim da empresa no mercado de “Fast Fashion”? Vale mencionar ainda que a Zara também deu um passo inédito em 2023 ao contratar uma modelo trans para estrear sua campanha em homenagem à Barbie. Claro que todas as medidas que as marcas acima tomam encarecem suas peças, deixando de ser acessíveis para o “grande público”, já que o modelo de produção ainda não é escalável. Porém, são passos significativos que servem de exemplo a outras organizações e também nos ajudam a tomar decisões como simples consumidores. (SM)
TEM QUE LER
"Aquele escravo que estava agora em algum lugar na floresta, fugitivo, escapulindo às pressas, era o melhor amigo dos animais do Engenho de açúcar. Quando Pipilho o conheceu, ele carregava um cachorrinho magro em uma cesta. Foi no verão passado, dois meses depois que chegou ao Engenho. E, sempre que cruzava seu caminho, um animal o acompanhava: os mesmos pássaros, bois, preás, lagartos ou cães. Até o pavão da sinhá o seguia pelo jardim e se alimentava de suas mãos."
Esse trecho é do conto “Centelha”, começa com criança, segue com cavalo que não aceita violências. e tem o Malongo, amigo dos animais. Talvez meu conto preferido do livro da Teresa Cárdenas. Ela é cubana, musa carismática (vide foto recente do Instagram dela), e minha nova febre. Li Awon Baba (seu mais recente livro lançado por aqui) devagar demais pro meu padrão, apesar de ser um pequeno livro de contos preciosos. Talvez estivesse querendo degustar profundamente a experiência. Talvez doesse demais, e é pra doer mesmo. Não é mole não, são histórias do período da escravidão. A gente precisa doer o horror que foi e ainda é isso tudo. A elegância e a grandeza dos 12 contos também residem na perspectiva, a partir das crianças, das pessoas escravizadas, perspectiva essa que foi grande motriz para a Teresa escrever e contar histórias. Aqui nessa entrevista ela conta mais sobre isso, sobre como ela novinha estranhava e sentia falta de personagens como ela. Viva Teresa!!! (CE)
QUILOMBOS
Sabe o que deveria estar na lista de passeios essenciais no Brasil: visitar um quilombo. Acho que deveria ser uma excursão escolar básica (já rola isso, minha gente? Na minha época não rolava não). Devia estar nas listas de turismo tudo. Eu só fui visitar um quilombo depois dos 30 e recentemente voltei no mesmo lugar que me conquistou: território Kalunga, no Goiás. Essas comunidades, além de serem pura resistência pra gente honrar demais (não deixo de imaginar como pode ter sido cada história de fuga da escravidão, cada memória), são pura sabedoria do que é viver em harmonia com a natureza. O que me leva a também destacar que também são lugares para encontrar alimentos naturais, sem agrotóxicos, e belas e simples opções veganas.
A Vegan4You, agência de viagens vegana, vira e mexe visita o Quilombo do Ivaporunduva, em Eldorado, São Paulo, vale a pena conferir o roteiro e ficar de olho. (CE)
MOTIVOS PARA REVER AQUARIUS
Fui a Recife de surpresa, a trabalho, terra que frequentei bastante na infância (pois mainha pernambucana). Fora pesquisar opções veganas, revisar meu material de Comunicação Não Violenta, não tive mais preparos. Fui e pronto. Cheguei de noite e o trabalho só começava no outro dia pela manhã, então fui suave dar uma caminhada nas proximidades e eis que: PRÉDIO DO AQUARIUS. Sabe a sensação de surpresa, caraca, é aqui, caraca, como não pensei antes, caraca, quero ver o filme de novo! É o prédio do Aquarius mesmo, ou eu estou viajando? Foi uma injeção de euforia. Eu lembrava que tinha adorado o filme, mas não lembrava muito mais…
Agora, com o filme revisto, venho convencer aqui mais alguém a rever essa preciosidade.
Sim, o filme foi filmado ali no prédio mesmo, na Av Boa Viagem em Recife e o prédio na real se chama Oceania (veja o Making Of aqui);
Sonia Braga é Dona Clara;
Pegação na terceira idade sim e sim;
Ladjane!
Vontade delícia de deitar na rede de tarde todo dia;
Cena das amigas saindo juntas pra balada pra dançar salsa me pega demais;
Retrato de classes sociais com uma crítica sempre por perto. (CE)
Na Chapada Diamantina dá para fazer o passeio pelo mini-pantanal Marimbus na Comunidade Quilombola de Remanso :) a comunidade que organiza tudo e oferece almoço no final.