Oi, . Tudo?
Essa newsletter entrega música, aconchego, viagem, reflexão e transborda nossa amizade para vocês.
Boa leitura!
Cassimila e Sarah
Vaca Profana
Uma vez me perguntaram o que a Taylor Swift tem de tão interessante assim para ter tantos fãs. Minha resposta foi praticamente um TCC sobre a loirinha e eu duvido até hoje que tenha sido lido. Um tempo depois, me deparei com um TikTok de uma mulher, com mais de 50 anos, engenheira, que contava um pouco sobre porque ela era fã da cantora e a acompanhava mesmo mais velha. Eu enviei o vídeo para essa amiga, que me respondeu que a Taylor deve ser para as mulheres brancas o que a Beyoncé é para as mulheres negras. Pá! Isso foi suficiente para alugar um duplex na minha cabeça. Minha percepção da Beyoncé é a de uma artista que tem um nível de perfeição em tudo o que faz que simplesmente não a torna humana. Será que a exigência que a sociedade tem com mulheres negras que chegam no topo é tamanha que se ela deslizar, a cobrança é maior e a queda é mais forte? Eu, como mulher branca, imagino que sim. Durante o mês de abril, escutei todos os discos e músicas solos de ambas. Consegui entender o que a Beyoncé pode representar para as mulheres negras ao escutar os 3 últimos álbuns. As duas cantoras falam de corações partidos, de rejeição, de aceitação e certas músicas poderiam ser complementares, como é o caso de If I were a boy, da Beyoncé, e The Man, da Taylor. Essa excursão no mundo musical de duas grandes mulheres me abriu outra caixa de perguntas, que é: por que precisamos comparar os feitos de cada uma dessas divas? Por que ainda estamos criando embates sobre qual delas é melhor, mais produtiva, mais inteligente e poderosa? Não faz sentido esse duelo entre mulheres que insistimos em criar. A real é que cada uma delas - e aqui não me limito apenas a estas duas -, à medida que constrói sua carreira, conquista seus fãs, ganha seus prêmios, pavimenta um caminho para gerações futuras de pessoas que poderão entender e se identificar com seus contextos e suas letras. Talvez, o que precisamos é ouvir mais mulheres e parar de acreditar que o que é feito por mulheres é algo inferior. (SM)
Viajar segura
A BBC Brasil publicou recentemente os 5 países mais seguros para mulheres viajarem sozinhas. O ranking é esse aqui:
1º Eslovênia
2º Ruanda
3º Emirados Árabes Unidos
4º Japão
5º Noruega
Apesar de achar esse tipo de informação útil, espero que em alguns anos este seja um assunto que não seja mais digno de nota. Lá no nosso Instagram, pedimos para vocês colocarem os lugares que mais se sentiram seguras quando visitaram sozinhas. As respostas foram:
Londres (teve mais de duas recomendações) (Reino Unido), Atenas (Grécia), Nova York e Chicago (EUA), Uruguai, Paris (França), Buenos Aires (Argentina), Cartagena (Colômbia), Barcelona (Espanha), Porto (Portugal), Zurich (Alemanha), Caraíva (Brasil).
Como experiências são diferentes e o tempo e anos em que cada uma visita um local fazem a diferença, preciso destacar que eu tive experiências nada boas em Cartagena, Portugal, Paris e Nova York, mas recomendo demais Chicago! ;) (SM)
Transição para o Veganismo #5 - Viajar e Comer
Quando fiz minha transição eu era uma pessoa que viajava bastante e queria seguir viajando, logo, eu mesma fazia parte do coro “o que você vai achar pra comer lá?”. Garanto que viajar vegana não é tão difícil, explico a partir de um diálogo que tento reproduzir abaixo, baseado em fatos reais.
– Você é daquelas veganas radicais?
– O que é radical para você?
– Ah… Quando não tem comida para você num restaurante e você vai embora.
– Nossa, que radical trocar de restaurante, não é?
– Ah… só comer um queijinho, um peixinho… vai ficar passando fome?
A partir daqui não lembro bem o que aconteceu. É que quando chegam os diminutivos para as comidas vindas da violência perco o eixo. Outra coisa é falar de fome. Da minha posição de privilégio eu sei que estou longe daquela fome que é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU: Objetivo nº 2 - Fome Zero e Agricultura Sustentável.
Se a gente escolhe o veganismo que não é só dieta e selinho cruelty free, veganismo que pensa relações de poder e compaixão, a gente apoia as políticas de combate à fome, sonha um mundo melhor. Trocar de restaurante não é nada! Negociar o que a cozinha pode fazer pra você é fácil.
Para garantir:
Você vai se acostumar a levar seu kit vegano para certas viagens, o meu inclui tahine/pasta de amendoim (salva cafés da manhã), umas barrinhas de cereal, castanhas e grão de bico cozido e embalado à vacuo;
Nos seus lugares favoritos e nos que você pretende visitar: peça opções veganas, peça pelo site, peça pessoalmente, peça pelas redes sociais, sem vergonha de pedir, foi assim que diversos lugares abriram opções veganas no cardápio;
Pergunte e explique o que você busca comer e assim você vai conhecer pessoas incríveis por aí dispostas a ajudar, pessoas curiosas e te ensinando sobre comidas locais, além de veganos no mesmo caminho;
Não esqueça de buscar as frutas da época e do local que você está visitando -ficar muitos dias sem um limãozinho que seja pode baixar sua imunidade;
Lembre que o Google Maps e o Happy Cow estão aí respondendo bem às nossas pesquisas.
Claro que alguns lugares vão ter mais opções que outros, ou opções mais gostosas, e você pode acabar mudando de destino de viagem só para comer melhor, ser você e ser resistência na gentileza com todos os seres.
Algumas recomendações deliciosas que repito com gosto: A Pousada Gastronômica Soul Vegan; Peruíbe com A Pousada Vegana + várias opções legais na cidade; a Chapada dos Veadeiros; nordeste com suas farturas de feijões, tapiocas, moquecas de banana e macaxeira frita.
Já me aventurei e foi delícia: arroz, feijão preto, legumes e banana verde frita de diferentes maneiras em Cuba; fiz até um carrossel no nosso Insta pro meu amado Pará; azeitonas, gaspachos e arroz de verduras (o nome original da paella que é vegana) na Espanha; e México é óbvio.
Escrevi sobre minha experiência na França em 2018 aqui.
Tô de olho: excursões veganas da Ju da Vegan4You. (CE)
Aquela coisa incômoda chamada energia masculina
Não faz muito tempo um cara publicou no Twitter uma foto de cócoras na academia em que ele exaltava o quanto era bom treinar sem cueca. Eu não preciso dizer o que dava para ver na imagem, né? O que seguiu daquele tweet - além das piadas com o membro do cara - foi uma porrada de gente, em sua maioria HOMENS, concordando com ele, dizendo que fazia o mesmo e mais uns nãoseiquantos elogios ao seu pênis. Aquilo ali foi uma amostra grátis e desnecessária sobre a energia masculina que a gente tanto é obrigada a respirar e tá em todo lugar. Um cara - sem importar sua orientação sexual - agachado com o pau para fora num lugar público. Ele sorrindo para foto sem pensar que a atitude dele é errada em muitos níveis. É uma agressão e ele deveria ser preso por importunação sexual. E mais um monte de sem noção falando que faz o mesmo, sem questionar o brother sobre sua atitude. É mais uma amostra do desgaste de energia que os caras - de uma maneira geral mesmo - passam pensando no seu próprio prazer, sem importar se fere o limite do outro. E isso se repete em casa, com o marido, com o namorado, com o ficante premium. A gente bebe essa energia amarga como um remédio daqueles mais intragáveis, como se fosse curar a cólica mais violenta. E a dor nunca passa. Não para gente. Ainda! (SM)
Líquidos aconchegantes
Aqui em São Paulo tá começando a esfriar e eu amo segurar uma xícara quente na mão com um líquido aconchegante. Para além do chá e dos leites básicos que já trouxemos na edição nº1 da Fega, hoje quero recomendar para vocês:
O golden milk mais fácil do mundo da Thati Galante - também dá pra fazer com pasta de amendoim;
O chocolate quente da Katrin (sempre precisa nas combinações). (CE)
Tem que ler
“– Os animais mostram a verdade sobre um país - eu disse. – A atitude em relação aos animais. Se as pessoas tratarem os animais com crueldade, não adiantará de nada a democracia ou qualquer coisa.”
Em “Sobre os ossos dos mortos” de Olga Tokarczuk, ganhadora do Nobel, achei a personagem que eu gostaria de convidar para um chá com discussão sobre o veganismo. Janina é vegetariana e defensora dos animais numa terra de caçadores, então quero acreditar que ela entenderia e imediatamente transformaria seus hábitos. Seríamos melhores amigas até o momento em que ela começaria a falar de astrologia e eu cairia fora falando “te amo mas tá na hora de eu ir pra casa”. Hehe.
Me apaixonei por essa protagonista que conta em primeira pessoa sua vida num vilarejo distante na Polônia, seu universo, suas paixões. Ela vive só e reconhece o etarismo e misoginia à sua volta, reconhece também as conexões que nos unem como seres vivos (animais, vegetais, humanos), à sua maneira muito particular.
Esse livro às vezes é citado como um thriller ecológico, envolve algumas mortes de animais humanos e não humanos, mas gosto também pelo tema da loucura - afinal que vegana nunca foi considerada louca?
A seguir mais alguns trechos selecionados (juro que tentei economizar nos trechos, mas foi difícil). Quem já leu me chama para um papo? (CE)
“Tristeza, senti uma grande tristeza, e um luto interminável por cada animal morto. Termina um luto e logo começa outro, então estou em constante luto. É meu estado natural.”
“– Que mundo é esse? O corpo de um ser transformado em sapatos, almôndegas, salsichas, num tapete junto à cama, num caldo preparado à base de ossos de um outro ser… Sapatos, sofás, uma bolsa feita da barriga de um ser, aquecer-se com a pele alheia, alimentar-se com o corpo de outro, cortá-lo em pedaços e fritar em óleo… Será que é possível que esses procedimentos macabros aconteçam de verdade? Essa grande matança cruel, insensível, mecânica, sem nenhum remorso, sem nenhuma pausa para pensar, embora muito pensamento esteja implicado em filosofias e teologias engenhosas. Que mundo é esse onde matar e causar dor é tido como algo normal? O que diabo acontece com a gente?”
Além de tudo a capa da edição brasileira é maravilhosa.