Olá, vaquinha!
Chegamos a novembro, e já sentimos aquele cheirinho de fim de ano no ar. Mas ainda dá tempo de explorar mais reflexões, descobertas e, claro, boas doses de conversa e diversão por aqui. Somos muito gratas por termos você ao nosso lado, acompanhando cada edição desse projeto que amamos construir com tanto carinho.
Então, prepare sua xícara de chá, café ou o que te fizer companhia, e venha com a gente em mais uma viagem pelas nossas ideias e histórias.
Viva a fega!
Cassimila e Sarah
VACA PROFANA
Imagine a cena: México, década de 1930. Uma jovem sentada em uma sala iluminada por velas, cercada por quadros e livros, desafia convenções com sua voz potente e sua escrita. Ela escreve sobre os direitos das mulheres, sobre igualdade social, sobre resistência. Seu nome é Ifigênia Martínez, e sua trajetória não é nada menos que revolucionária.
Ifigênia nasceu em uma época em que as mulheres tinham seus espaços limitados, confinadas ao que era permitido pela sociedade patriarcal. Mas ela ousou sonhar maior. Tornou-se uma economista brilhante, estudando nos Estados Unidos, onde foi pioneira em sua área, voltando ao México com uma visão transformadora. Mas seu impacto ia muito além da economia. Ela entendeu que o poder do conhecimento precisava ser repartido, e que as mudanças sociais só aconteceriam se mulheres, indígenas e trabalhadores pudessem ocupar o centro das decisões.
Professora universitária, lutou incansavelmente por um México mais justo, escrevendo obras que denunciavam a desigualdade. Seu trabalho ultrapassou as barreiras acadêmicas e chegou à política. Foi uma das primeiras mulheres a ocupar cargos de liderança no governo mexicano, sem nunca se curvar às estruturas que buscavam silenciá-la. Ela se tornou referência no feminismo latino-americano, advogando por um mundo onde a política deixasse de ser um monopólio masculino.
Em 1º de outubro de 2024, Ifigênia, então presidente da Câmara dos Deputados, teve a honra de entregar a faixa presidencial a Claudia Sheinbaum, a primeira mulher a assumir a presidência do México. Poucos dias depois, em 5 de outubro de 2024, Ifigênia faleceu aos 99 anos, deixando um legado indelével na política e na luta pelos direitos das mulheres.
Talvez você nunca tenha ouvido falar de Ifigênia Martínez. Seu nome não está estampado em manchetes ou em livros escolares. Mas sua importância ecoa em cada movimento que reivindica um futuro mais inclusivo. Hoje, cada mulher que se levanta para exigir seus direitos carrega um pouco da força de Ifigênia. Agora, passo a entender seu nome como sinônimo de coragem. (SM)
O BATOM VERMELHO É UMA LÍNGUA UNIVERSAL
Poucos objetos conseguem atravessar milênios e permanecer tão carregados de significado quanto um batom vermelho. Ele não é apenas um cosmético, mas uma espécie de amuleto, uma ferramenta de poder que mulheres têm usado para se comunicar com o mundo. Desde sua origem na Mesopotâmia, quando a Rainha Puabi usava pigmentos para sinalizar status e autoridade, o batom vermelho continua a ser um marcador de algo que não pode ser expresso apenas com palavras.
Porém, é fascinante como um único tom pode ser tantas coisas ao mesmo tempo. Nos lábios de Cleópatra, era arma política; entre as sufragistas, uma declaração de coragem. E hoje? O batom vermelho é expressão. Glamour para uns, ousadia para outros, mas acima de tudo, um lembrete de que beleza também é resistência.
Há, no entanto, uma armadilha em sua universalidade. Apesar de sua história rica e multifacetada, o batom vermelho também está preso às engrenagens do mercado. A cada novo lançamento, com tons levemente diferentes e nomes sedutores como "Ruby Woo" ou "Femme Fatale", surge a tentação de possuir mais um. Mas quantos batons vermelhos são suficientes? E quantos deles realmente usamos até o fim?
Entre uma prateleira de farmácia e uma vitrine da Sephora, somos confrontados não apenas por escolhas de cor, mas por uma narrativa de consumo que nos empurra a acreditar que aquele será o tom perfeito – o que faltava para completar nossa história. No entanto, quando olhamos para trás, percebemos que o poder do batom vermelho nunca esteve no objeto em si, mas na força que ele evoca em quem o usa.
Eu sempre usei batom vermelho, mas com a pandemia, por motivos óbvios, fui deixando de lado. Naquela minha necessaire que comentei na news passada, são 3 tons diferentes e o último comprado em março, no Brasil, a maneira que a vendedora me convenceu foi muito curiosa. Eu entrei na loja perguntando se ela tinha algum batom vermelho que não transferisse, que durasse horas. Ela me entregou um e me disse: esse aqui é à prova de beijos. Imagine só, estava pensando em me separar, e nos meus devaneios de futuro solteira estavam previstos muitos beijos na boca. E foi assim o argumento que funcionou comigo. hehe
A próxima vez que você segurar um batom vermelho nas mãos, antes de deslizar a cor pelos lábios, pergunte-se: o que ele dirá por mim hoje? E, mais importante, o que ele ainda pode dizer para o mundo? Porque, no fim das contas, o batom vermelho não é sobre se adaptar. É sobre ser – e fazer disso uma declaração. (SM)
UM TOQUE DE OURO NA COZINHA
Pouco mais de um ano como vegetariana e, se tem algo que não deixo faltar na minha cozinha, é a levedura nutricional. Descobri esse pozinho mágico meio sem querer, em uma dessas buscas por sabores que dessem aquele "tchan" nos pratos – e que também fossem nutritivos. Hoje, ela é figurinha carimbada nas minhas receitas.
Pra quem nunca ouviu falar, a levedura nutricional é um ingrediente que lembra um pouco o queijo parmesão ralado, mas com um gostinho todo único, levemente salgadinho e cheio de umami. Rica em vitaminas do complexo B (algumas marcas até adicionam B12), proteínas e minerais, ela é praticamente uma amiga do peito para quem busca alternativas saudáveis e veganas.
Uso em tudo: salpico na pipoca, finalizo massas, misturo em molhos, tempero legumes assados… A criatividade não tem limites quando se trata dela. Além de ser prática, é aquele ingrediente que dá a sensação de “como vivi sem isso antes?”.
Se você ainda não conhece, fica a dica: NÃO PERCA MAIS TEMPO! (SM)
ZINES
Você já conhece, já fez ou já recebeu um zine? O primeiro zine que me chegou foi o da Luisa Pinheiro, divulgando sua newsletter Doses de Tiquira. Achei um jeito super prático e charmoso de espalhar textos pelo mundo, mas também pode trazer colagens, arte, o que você quiser. Desde então, ficou nas minhas pendências mentais fazer uns zines. Foi só dois anos depois que fiz uma oficina de zine, resgatei a ideia e chamei a Sarah para a gente montar o primeiro zine da Feganismo.

Estamos muito orgulhosas do nosso primeiro zine. Se você encontrar com a gente em breve vai acabar ganhando um. (CE)
TEM QUE LER
Diversos foram os candidatos a ocupar o cargo de leitura de novembro aqui, mas um texto não saiu da minha cabeça. E se… Qual a regra para estar na coluna tem que ler? Até hoje a regra era ser um livro publicado por uma autorA. Hoje o conceito de publicação vai caber na publicação independente: o zine. Além de ter arrastado minha parça de newsletter para o zine da Feganismo, me empolguei para fazer um zine especial para celebrar meus 40 anos recém cumpridos. O que acontece com cumprir décadas? Números redondos exercem um poder diferente sobre mim, confesso. Convidei três poetas preferidos (Maria Lígia, Marcos Mazutti e Thays Puerta) para fazer um poema cada sobre o tema “quarentar” e me encarreguei eu mesma das ilustrações, do jeito que tenho gostado, divertido, livre e um tanto tosco. Compartilho aqui o primeiro poema do zine, quarentañera de Maria Lígia Pastina, e em seguida uma imagem do zine original com o poema ilustrado:
quarentañera dispersar as folhas as bolhas saber da energia vital temperar abacaxi com sal regressar pelo caminho novo tem um passarinho ali migalhinhas de esperança falar a língua das criança eleger as ditas frescuras portá-las ao nível das rugas faz primavera demais nas terras do peito esse enigma não cabe no tempo mas viaja de bicicleta
Coisa mais linda e não sai da minha cabeça nem do meu coração. E o zine inteiro está muito maravilhoso me ajudando a atravessar esse portal para a meia idade muito bem acompanhada pelas amizades e pela arte. (CE)
SAMBA DE DANDARA
Já compartilhei por aqui minha paixão por grupos musicais de mulheres, mas faltava destacar as grandes do Samba de Dandara. O grupo surgiu em 2012 e é uma pena que levou tanto tempo para a gente conhecer. Eu só fui ver elas ao vivo esse ano, na Casa de Cultura de Santo Amaro, cantando e tocando sua homenagem à Jovelina Pérola Negra, que faria 80 anos em 2024.
Compartilho aqui um texto da própria banda e o show de lançamento do disco Samba de Dandara no Centro Cultural São Paulo em 2022. Que lindeza e com participações especialíssimas! Vale ver o show e ouvir o disco delicioso, cheio de composições de mulheres e disponível nas plataformas de música digitais.
Samba de Dandara é samba de empoderamento e exaltação às mulheres sambistas, às grandes compositoras, às grandes intérpretes, às guerreiras do samba. A concepção de Samba de Dandara carrega o peso e a inspiração de Dandara, mulher negra, guerreira e referência histórica na luta contra a escravização.
Carregar esta marca significa enaltecer e promover a resistência feminina e negra sob a forma de uma representação musical que passeia por ritmos afro-brasileiros, sobretudo o samba em suas diversas vertentes, além de ijexás, afoxés, pontos de candomblé e umbanda. A banda propõe debates sobre ancestralidade e protagonismo feminino.
Amanhã, dia 1/12, elas tocam na Vila Itororó em São Paulo. Para o seu domingo ser inesquecível! (CE)
Fica ligada
Já faz um tempo que está no ar a newsletter do Jornal do Veneno, da Juliana Gomes, uma das nossas grandes ativistas veganas. Toda semana estou me atualizando com o resumo das notícias com a Ju, que comenta política como ninguém, com ironia, sem ficar em cima do muro e chamando nosso presidente de barbudinho esposo da Janja. Imperdível! Deixo aqui a dica de duas edições recentes que amei: a edição sobre dia das bruxas, aleitamento e veganismo, e a edição sobre a escala 6x1.
a zine da feganismo ficou uma fofura, adorei o efeito do tracejado nas bordas! <3
feliz que a zine que distribuí dois anos atrás (!!) te marcou de alguma forma