De festa junina a Pride Month
Estamos vivendo essa loucura dos tempos acelerados, entre dramas e alegrias pessoais, entregando para você a news agora sempre no finalzinho do mês.
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Cassimila e Sarah
Vaca profana
Provavelmente você deve conhecer um pouco da - triste - história do pintor Van Gogh. O holandês sofria de algumas questões mentais e durante sua curta carreira, vendeu apenas um quadro em vida. Ele mantinha uma estreita relação com seu irmão mais novo, Theo, que trabalhava negociando arte, acreditava no trabalho do irmão, mas ainda não via espaço dentro da sociedade que lhe comprava arte para o que Vincent vinha fazendo. Após a morte do pintor, Theo morreu pouco tempo depois, deixando sua esposa viúva com um filho. E é dela que eu quero falar: Johanna Bonger. Depois que ficou sozinha, Jo, como a chamavam, herdou os quadros do cunhado. Mesmo não entendendo de arte, ela sabia que as telas tinham potencial. Ela mergulhou na troca de cartas - guardadas por Theo - entre ele e Vincent e que, hoje, são parte fundamental para entender quem era Van Gogh e sua arte. Com isso, ela bolou um plano. Passou a ler sobre arte: revistas, livros, críticas e tudo o mais que poderia para ter uma formação e poder seguir com uma estratégia. Com o dinheiro que tinha e seu filho pequeno no colo, abriu uma pequena pousada em Bussum, um vilarejo na Holanda, e a decorou com todas as telas de Vincent Van Gogh. Ela também passou a frequentar a comunidade artística e se aproximou de um crítico de arte importante da época, tratando de guiá-lo pela obra do cunhado. E, foi aí, que seu trabalho em fazer conhecida a obra de Vincent Van Gogh começou. Ela relata, em um de seus diários, que além da criação do filho, essa era a tarefa que o falecido marido lhe havia deixado. Aliás, seus relatos só passam a ser amplamente conhecidos a partir de 2019; ao ser lançado o livro “Alles voor Vincent”, do pesquisador Hans Luijten. Até 2009, quando Luijten começou a trabalhar na reedição do livro que reúne a correspondência trocada por anos pelos irmãos Van Gogh, os diários de Jo não eram públicos. A família tinha receio de trazer à tona seus relatos pelo julgamento que a sociedade poderia ter sobre ela, já que Bonger foi uma mulher do início do século XX com ideias feministas e que soube viver. A história mais detalhada dessa Vaca Profana está nesta incrível - e deliciosa - reportagem da Piauí. (SM)
Johanna Bonger
As duas Paçocas
Paulista que sou, sempre soube da paçoca de amendoim, doce originário da região, sucesso que une veganos e não veganos, pode ser rolha, pode ser quadradinha. Já meu lado nordestino (e assim digo porque a família é espalhada), vem aqui adicionar que paçoca também é nome de farofa, e farofa salgada, bem animal mesmo. Qual a conexão? Paçoca é um nome que vem do tupi e significa esmigalhado, que passou pelo processo do pilão. Veja aqui a receita da paçoquinha vegana da batchan do @roledevegano (AMO e QUERO ABRAÇAR). (CE)
“I'm on the right track, baby, I was born this way”
Junho vai terminando, mas o “Pride” segue firme e forte por aqui. De tantas coisas que gostaria escrever, reuni algumas recomendações para ver e ouvir sobre a temática LBGTQIA+:
OUT: Curta de 13 minutos disponível na Disney Plus que conta a história de Greg e sua forma peculiar de como ele saiu do armário para sua família.
Heartstopper:
essa série é simplesmente LINDA. História de amor adolescente QUE DÁ CERTO. Netflix acertou demais! É imperdível.
HEARTSTOPPER | Por que fez tanto sucesso? : Aqui, a YouTuber Carol Moreira explica sobre o conceito “bury your gays” que estamos “acostumados” e a importância de estarmos atentos a histórias que quebrem este padrão.
Orgulho além da tela: Série na Globo Play que conta a história de personagens LGBTQIA+ desde os anos 70. Tem entrevistas com escritores, diretores e atores e narração de Ary Fontoura. Vale a pena! (SM)
Tem que Ler
Às vezes fico pensando como deve ser legal escolher o próprio nome. Ela escolheu: Amara Moira. Que nome gostoso de ficar repetindo (experimenta falar e me diz). A maravilhosa Amara é como ela diz no livro “travesti rondando os trinta, mas se dizendo vinte, militante LGBT, feminista, escritora, doutoranda em teoria literária pela Unicamp nas horas vagas: e puta.” Acrescento que ela também é colunista do @midianinja. Em “E se eu fosse pura/puta”, com o trocadilho bem explícito na capa, a gente passeia pelo diário da Amara, recém Amara, descobrindo ser desejada, com um frescor inocente. Amara vai experimentando um poema, contando causos dos programas, entendendo violências e dores, trazendo muito pajubá - uma delícia de ler. ( Conhece alguma palavra do pajubá? Tem origem iorubá e nagô e uma história ligada com a ditadura, muito poderosa. Essa matéria aqui tá bem legal. )
Enfim, é de devorar de tão curiosa que a gente fica e de tão viva que é a escrita da Amara.
A seguir selecionei um trecho pra você do capítulo “As omices dos ômis”. (CE)
"Não sei se por estar trabalhando em texto os programas que faço (e com isso forçando uma reflexão), ou se é por a coisa ser violenta mesmo e eu só aos poucos estar me dando conta disso, a questão é que cada vez mais, cada novo cliente que me aparece, a experiência da rua se torna mais parecida com uma experiência de abuso, violência... se a camisinha arrebenta e o cliente tenta continuar mesmo assim (fico pensando até se ele não fez com que ela arrebentasse de propósito), se percebo ele tentando inclusive começar a transa sem camisinha ou querendo pagar pra fazer no pelo, forçando a barra para que eu faça coisas que não estavam no script (os relatos que ouço de lixo que tirou o capuz sem a travesti perceber ou que pôs arma na cabeça dela e a obrigou a dar sem), as violências verbais todas, as falas a respeito da esposa (“sou casado, então não dá pra vacilar”), tudo tem transformado radicalmente a imagem que eu fazia da prostituição.
Se no começo havia algo de prazer, dada a carência própria em que eu me via (carência que ainda está aqui firme e forte), agora o que mais sinto lá é dor... e aí quando volto pro meu outro mundinho, esse da faculdade, das pessoas supostamente inteligentonas, encontro as mesmas escrotices de sempre, só que feitas de maneira sutil, piadas com apologia e naturalização do estupro, homens desfilando orgulhosos suas amantes, se divertindo em considerar cada mulher que veem pela frente como uma possível presa, silenciamento de mulheres (“se você não sabe se impor nesse mundo de homens, então cale a boca e escute”), o profundo foda-se que ligam para a situação particular que muitas delas enfrentam na universidade (o caso das mães solteiras, por exemplo). Sei lá, tá difícil lidar com tudo isso sem estabelecer uma ligação muito direta entre o que é ser homem e o que é violentar (...) estou fazendo o meu melhor para transformar radicalmente a pessoa que sou, pois o homem que fui também era escroto sem saber e nem ao menos ele/eu se importou em querer se dar conta disso.”