Uma news que fala de UM TUDO
Chegamos!
Mais uma vez conseguimos, no meio dos nossos caos particulares, tempo e energia para fazer essa news engajada, bonita e curiosa para vocês. Coisa gostosa é manter hábitos inúteis, que escolhemos simplesmente por gosto e amor.
Espalha a gente por aí?
Abraço,
Cassimila e Sarah
Vaca profana
“Ñumshi qchee maat kiob”, significa “Mulher que faz panelas” no idioma Pai Pai e é o nome do curta-documental que fala sobre a experiência de Dária Mariscal, uma das poucas representantes dessa comunidade indígena da região da Baja Califórnia, onde moro aqui no México. O trabalho que Dária exerce há mais de 40 anos é uma tradição milenar. Uma das peças encontradas na região data de 1.000 anos AC-600 A.C. Assim como ela, suas ancestrais dominavam a técnica de transformar a argila em algum utensílio. Hoje, Dária tem o desafio de, sozinha, passar adiante esse conhecimento à nova geração. Segundo ela, as pessoas mais novas de sua comunidade não têm mais interesse em aprender essa função. Algumas até sentem vergonha. A perda de interesse pelas tradições também aconteceu com o aprendizado dos dialetos Pai Pai e Ko’ahl, ambos falados por ela, sendo o espanhol sua terceira língua. Conheci a Dária Mariscal durante a exibição do documentário, produzido e dirigido por Olimpia Vázquez Ojeda, uma amiga querida. Por uma semana, a ceramista esteve aqui em Tijuana para um curso de como produzir as peças que são o sustento de toda a sua vida. O trabalho de Dária não começa ao moldar um vaso. Ele tem início ao retirar a argila, transportar, molhar, até que ela possa ser manuseada. Depois disso, passa por um processo de secagem, que pode levar dias ou semanas, dependendo do clima. Já seca, a peça ainda deve ser queimada, ganhando estampas únicas. Me emociona a persistência de Dária para manter viva sua cultura e espera que mais pessoas possam aprender esse ofício. Não faz muito tempo precisou levantar uma casa nova, já que a sua teve de ser queimada como respeito a um familiar próximo que morreu. E é assim em sua cultura. Quando morre alguém considerado pilar da família, depois de defumar a casa com sálvia, ela deve ser queimada com os pertences da pessoa. Com isso, constrói-se uma nova. Também nos conta que a tradição de fazer cerâmica como os Pai Pai era algo desempenhado exclusivamente pelas mulheres. Os homens ajudavam na retirada do material e a acender a fogueira para a queima. Para mim, tudo soa poético e, ao mesmo tempo, duro. E acho que, de alguma maneira, contando sobre Dária Mariscal para você hoje, posso aportar um pouquinho para que essa memória se mantenha viva. Se quiser assistir ao documentário, que ainda não está disponível em plataformas de streaming, manda uma DM para gente lá no Instagram que passamos o acesso e senha. (SM)
Olimpia (esq.) e Dária (dir.) durante a apresentação do documentário
E as proteínas?
É comum para quem pratica esportes usar suplementos. Não precisa nem ser atleta que você já conhece o tal do "Whey", feito à base de leite, na verdade de uma sobra da indústria: o soro de leite. Aquela pergunta que tanto fazem para veganes “E as proteínas?” pode até ter ganhado força nessa cultura aqui que acaba estimulando um consumo exacerbado de alimentos proteicos e só consegue ligar proteína com origem animal. Gente, não né? Proteína é um macronutriente que tem em várias comidas. E pra quem está nesse universo dos suplementos, estão aí as proteínas veganas ganhando mercado. São mais caras? Sim. Afinal, não são feitas de sobras de outras indústrias e ainda somos poucos.
Como já falei um monte aqui, fiz cursos com a nutricionista especializada em mulheres Pri Riciardi e ela recomenda muito que mulheres evitem ao máximo tudo derivado do leite. Fazendo um tratamento com ela comecei a incluir proteínas veganas de arroz, ervilha e também sementes em receitas antes muito “doces” com frutas. Aprendi inclusive a combinar melhor frutas para controlar a glicemia, mas isso é papo para outra matéria. Aqui hoje quero compartilhar com você, minhas dicas a partir dessa pequena experiência de uma não-atleta que adora vitaminas e cremes de frutas e aprendeu a usar esse suplemento.
As mais “leves” para o intestino são as baseadas na proteína do arroz e tem menos lista de ingredientes;
Se você, como eu, não suporta sabor de adoçante (a maioria leva adoçante), busque as que tem apenas stevia/esteviol ou nada (ralei pra encontrar essa aqui ó, que é ótima para fazer mousse e quase tudo).(CE)
EUA e o aborto. Tá sabendo?
Pouco a pouco, mais países avançam na legalização de leis a favor do aborto. Aqui, no México, alguns estados já o permitem. Nos EUA, o aborto é legal desde 1973. Aliás, ao ler mais sobre o assunto, um fato que me chama a atenção é que a Tunísia foi o primeiro país a legalizá-lo, ainda nos anos 60. Pois bem, com toda essa volta conservadora que temos sofrido, a Suprema Corte dos EUA estuda dar um passo atrás na decisão. Se o fizer, o aborto passa a ser imediatamente ilegal em 22 estados. A decisão deve sair em julho, contudo, algumas empresas, como Amazon, já se anteciparam e garantiram o pagamento de passagem e procedimento a colaboradoras que assim desejarem, caso passe a ser proibido. Quem está tratando de mudar a legislação a favor do aborto por lá é o juiz conservador - indicado por George W. Bush - Samuel Alito. Para ele, a lei que descriminaliza o aborto baseada na decisão “Roe x Wade”, do final dos anos 60, está “flagrantemente errada”. Durante os 50 anos em que o aborto é um direito conquistado por lá, alguns estados têm sua própria regulamentação, como o Texas, que permite a interrupção da gestação em até 6 semanas, tempo em que nem todas as mulheres se dão conta que estão grávidas. Em 2021, mais de 600 restrições foram impostas em diferentes estados. A proibição do aborto nos Estados Unidos abre um precedente para outros países com inclinação conservadora, como o Brasil, e mantém sua descriminalização cada vez mais longe da realidade. Quem sofre com isso? Nós, mulheres. Para entender melhor o que está sendo discutido, recomendo esse episódio do “O Assunto”. (SM)
Quem limpa sua casa?
Acabei de me mudar e cheguei por aqui levando poeira na cara (a obra não tinha precisamente acabado). E nessa nova aventura aprendi (como a gente aprende coisas saindo da mesmice) que existe uma faxina especializada em pós-obra. Nunca tinha pensado nisso. Limpeza e faxina, especialmente a figura da diarista (sem contrato, sem direitos), é no Brasil uma profissão muito de mulheres. Assim, recebi aqui na nova casa a Josi, e tivemos um papo sobre profissão que me estimulou a escrever aqui. A Josi me disse que adora o trabalho dela, não aguenta ver sujeira e odiaria trabalhar sentada o dia inteiro (é certo que dormiria). Conversamos sobre como esse é um trabalho importantíssimo, essencial e deveria ser mais valorizado. Ela me disse uma pergunta que vou digerir por um bom tempo: “já pensou se todo mundo tivesse estudo? Como ficaria a limpeza?”. Não quero aqui levantar bandeira a favor nem contra o estudo. Até interpreto a frase da Josi com a palavra estudo significando “profissão que usa capacidade mental”. Mas, realmente, o que é “estudo”? O que consideramos “estudo”? Quem diz que estudo que merece mais ou menos salário? Algo pra pensar.
Isso tudo me lembra de recomendar pra você o filme (obrigatório, obra-prima do cinema nacional) Domésticas de 2001. O filme do Fernando Meirelles é baseado numa peça de teatro que na pesquisa para a Feganismo lembrei que foi escrita por uma mulher: Renata Melo. Ela também foi roteirista e atriz no filme.
E fica aqui também essa matéria sobre essa modelo brasileira que viralizou no Tik Tok fazendo faxina na casa de pessoas com depressão (dica do meu amigão Júlio).
Para quem quiser o contato da Josi para faxinas pós-obra em São Paulo: 11984895150.
Bora valorizar essas profissionais? Contratar direto, pagar bem, não colocar um aplicativo no meio que leva boa porcentagem do valor? (CE)
Reage, bota um TOP!
Sutiã pode até ter virado uma peça obsoleta para muitas de nós, mas se tem um investimento que vale a pena, principalmente se você corre, pula corda, dança e pratica outras atividades de mais impacto, é o top. Aquela peça de alta sustentação, que segura tudo na hora de pular…ah, que alívio. E claro, um modelo tão confortável só poderia ter nascido por mãos femininas. O top esportivo como conhecemos hoje é uma invenção de três mulheres: Lisa, Hinda e Polly. Em 1977, Lisa começou a correr e sentia muito incômodo com os sutiãs esportivos disponíveis naquela época, feitos e pensados por homens. Óbvio que esse negócio não daria certo, não é? Depois de algumas tentativas para deixar tudo no lugar, Lisa teve a ideia de juntar dois sustentadores masculinos e costurá-los. A ideia deu certo e com apoio das outras duas amigas passaram a aperfeiçoá-lo até se sentirem seguras o suficiente para bater às portas das lojas oferecendo o produto. O que elas não contavam é que sua idea genial seria barrada pelos gerentes, HOMENS, que diziam que suas lojas esportivas não vendiam LINGERIE. Além disso, a inclusão de mulheres em esportes, como corrida, era algo recente. Apenas cinco anos antes a União Atlética Amadora dos EUA havia liberado a participação de mulheres em maratonas. A justificativa para sua proibição era que a corrida poderia prejudicar o corpo feminino…Mas, voltando às três amigas inventoras, elas criaram a marca JogBra e conseguiram ganhar mercado. Elas se deram conta que era mais fácil falar com as assistentes dos gerentes das grandes lojas. A JogBra foi vendida em 1990 e elas continuam amigas até hoje. E mais: neste mês de maio foram incluídas no Hall da Fama dos inventores dos EUA. Essa história contada em detalhes você lê aqui. (SM)
Tem que Ler
Em “A Origem do Mundo: Uma história cultural da Vagina ou A Vulva Vs. O Patriarcado” já começamos com uma brilhante lista de “Homens que se interessaram demais por aquilo que se costuma chamar de “Genitália Feminina” ”. Ali tem Freud, tem Santo Agostinho, tem médico que gostava de cortar clitoris fora, tem Barão imperialista e racista obcecado pela genitália de uma mulher, e a turma da caça às bruxas, que selecionei pra vocês abaixo. É cada história absurda! É tão importante sabermos de onde vem e por onde andou tanto machismo e patriarcado! A Liv Stromquist é sueca e além de quadrinista estudou ciências políticas. No livro a gente sente o peso de uma grande pesquisa histórica (com referências), um olhar muito inteligente sobre a nossa sociedade, desenhos e lettering no estilo muito perfeitos e também um humor incrível! Vale muito a pena ler e ter em casa para voltar várias vezes. Dela também já li “Los sentimientos del Principe Carlos” que tá GE-NI-AL! (CE)