Conteúdo brabo para o mês da resistência dos povos originários
Emtine ,
Essa news vem toda toda pelo mês da Resistência Indígena.
Aqui por Pindorama lá se vão 522 anos de destruição, morte e muita resistência.
Os originários, que eram 3 milhões quando da invasão, chegaram a ser apenas 70 mil, e hoje não chegam a 1 milhão. Seus territórios estão cada vez mais devastados.
Temos muito a aprender sobre luta, sobrevivência e respeito à natureza com esses parentes.
No México, morada da Sarah, a população originária hoje é de cerca de 15 milhões. Curiosamente lá são menos etnias (78), com relação às 305 do Brasil. Apesar dos números que você pode conferir aqui, há também muita história de luta, devastação e violência.
Peço licença pra Sarah para dedicar essa news à minha bisa Fulni-ô, que não cheguei a conhecer pessoalmente, mas criou minha mãe e me deu o nome que carrego nesse mundão.
Cassimila e Sarah
Vaca profana
“Chinga tu madre” é o xingamento mais poderoso aqui no México. Mandar alguém à PQP é mandar alguém a “la chingada”. O curioso sobre essa maneira de amaldiçoar é que a palavra “chingar” vem do nome “Malinche”. E, “Malinche” foi uma princesa azteca, filha de uma cacique poderoso. Quando seu pai morreu, sua mãe se casou com outro cacique e teve um menino. Para não haver problemas de que "Malintzin" (um de seus nomes) brigasse pelo trono com seu irmão, o casal decidiu sumir com a menina e a mandou para outra tribo, dizendo ao povo que ela havia morrido. Como já estava grandinha e falava outros dialetos, Malinche se destacou. Até que chegou Hernán Cortés a estas terras e ela foi dada aos espanhóis como escrava. Mas, Cortés se deu conta que ela tinha muito mais a oferecer e decidiu tomá-la como amante. Com isso, “Malinche” se transformou em “Doña Marina”, aprendeu espanhol e era intérprete entre os colonizadores e os povos originários do México. Dizem que ela foi a responsável pela derrota e massacre de sua tribo por vingança, já que era ela quem traduzia o que ouvia e repassava as informações aos invasores. Além de se transformar em palavrão, o “malinchismo” é sinônimo de complexo de vira-lata. A verdade é que, até os anos 60, essa era a história dessa “Vaca Profana”. Não se considerava, por exemplo, as violações e outros tipos de violência que ela sofreu. A real é que não existem evidências da traição de Malinche com seu povo. É só mais uma dessas histórias inventadas para justificar o “machismo”. (SM)
"Cortés y la Malinche", Jose Orozco
O que a Arte da Cestaria tem a ver com Cogumelos?
Entre os Yanomami, a confecção das cestas é responsabilidade das mulheres. E por lá se usa um fungo negro para compor os cestos - belíssimos!!! Uma associação de mulheres Yanomami teve a iniciativa de registrar esse fungo especial da floresta, desconhecido antes pela ciência. Bom de ler e ver fotos por aqui e vídeo por aqui. (CE)
Índia Huayra: você já viu essa imagem?
Um porquinho do mato de um lado e um bebê do outro. Ambos mamando em uma mesma mulher. Como essa foto, retratada em 1992, mexe comigo! A mulher na foto é Huayra, da tribo Guajá, no Maranhão. Os filhotes que ficavam órfãos por conta das caçadas promovidas pela comunidade indígena eram adotados e passavam a ser tratados como seus filhos. Deixo aqui o link para a entrevista do fotógrafo que fez a imagem, Pisco del Gaiso, para quem tiver curiosidade em saber mais. (SM)
Impactos do Garimpo
O garimpo só avança na floresta, devasta, mata e violenta os povos indígenas que ficam. Aqui uma matéria que dói demais e é necessária, sobre o impacto do garimpo especificamente para as mulheres. (CE)
Pra além da Mandioca
Aprendi no Saberes e Sabores Indígenas com a Vanessa Feha a fazer esse bolo de milho tradicional do povo Kaingang - chama JAMÌ - mágico e apaixonante. Nada do que você está acostumada com açúcar, é puro milho (com um tico de água)! Perfumou minha casa demaisssss! Fiz sem a folha de bananeira, só untei um pouco a forma, e virei no meio do tempo. Quero fazer de novo em breve para comer com sopa, compondo um prato e também com uma pastinha por cima! Nham nham. (CE)
O que você criaria primeiro se fosse a avó da terra?
Yebá Buró, a avó da terra, criadora de tudo que existe segundo a mitologia dos povos Desanas. Ao “surgir” e antes de criar o mundo como é hoje, começou com coisas essenciais para ela: cuia para as folhas de coca, forquilha para seu cigarro, cuia para farinha de tapioca e uma cadeira de quartzo branco. Diz a lenda que enquanto ela fumava seu cigarro sentada na sua cadeira, Yebá Buró decidiu criar os avôs do mundo, que seriam os 5 trovões. Ela passou tarefas importantes para que cada um deles pudesse construir o mundo como é hoje, mas a Ayahuasca atrapalhou a tarefa. Pois, então, a avó da terra deu origem ao seu neto. Ele, por sua vez, aprendeu que a mistura de uma erva sagrada e cinzas gerava vômito. E, assim, ao vomitar, foi dando origem aos povos que hoje habitam a terra, sendo que os últimos “vomitados” foram os homens brancos (!!!). Essa lenda me chamou a atenção por ser uma das únicas que conheço que fala que a terra veio de uma mulher. A história toda é uma delícia de ouvir. Inclusive, Yebá Buró já foi tema de um desfile do “Boi Garantido”. (SM)
Tem que Ler
“Meu nome é Andrea Rufino da Silva, Andrea Kariri. Sou cacique do povo Tapuya Kariri.
É muito emocionante ter recebido do meu povo essa responsabilidade e isso se deu muito com a atuação do movimento local e o meu povo. Me agraciaram com essa responsabilidade, que nos traz alegria, porém, nos traz também muitos momentos difíceis. (...)
Eu sou ameaçada de morte constantemente.
Já tentaram invadir a casa dos meus pais. Somos ameaçados, discriminados por pessoas de fora. Nós estamos na luta, todos os dias, principalmente, pela demarcação das nossas terras indígenas.”
"Guerreiras", de Aline Rochedo Pachamama foi o livro que escolhi para nosso mês. Tenho muito a explorar ainda das autoras indígenas, mas esse aqui já te garanto que merece sua atenção. Tive o privilégio de conhecer a Aline numa roda de conversa sobre esse seu livro, promovida pela Livraria Maracá, livraria online especializada em literatura indígena!!! Participei por um ano do Clube do Livro deles e foi muito maravilhoso!
O livro foca em mulheres indígenas que vivem na cidade - talvez ainda mais invisibilizadas? - e traz fotografias incríveis de cada uma delas. Só por isso já valeria! Agora, o respeito me salta aos olhos, pois a Aline compôs o livro com trechos das entrevistas que fez em primeira pessoa (respeitando a fala de cada uma), com o grafismo de cada etnia das mulheres entrevistadas, com trechos na língua original e mais informações gerais sobre cada etnia. É um trabalho incrível e super emocionante. Cada vivência e cada ponto de vista é muito vivo, carrega sofrimentos, escolhas, e necessidade de lutar, de um jeito que nos expande.
Selecionei um trecho para você que traz uma fala de uma cacique mulher (irmã de uma das entrevistadas), coisa que quando eu li, eu não sabia que existia. (CE)
Mais mulheres cacique...
A partir dali, me deliciei com essa matéria antiguinha, mas deliciosa sobre caciques mulheres. (CE)
Moda da Ayahuaska: descontextualização cultural
Encontrei esse texto da artista Daiara Tukano importantíssimo para você que nunca ouviu falar dessa bebida sagrada, para você que já tomou, para você que pensa em tomar. Eu já passei por essa experiência e o que tenho a dizer é que estamos fazendo isso muito errado. Sinto um enorme desrespeito e mais invasão aos povos originários. Mesmo nos estudos científicos, onde exatamente estamos avançando na cura coletiva, do planeta, na proteção das etnias? A Daiara, muito melhor que eu, traz a complexidade da questão. Recortei um trecho para você que tá com pressa:
“Não indígenas e “descendentes à procura da memória ancestral" começaram a tecer uma série de sincretismos misturando de maneira superficial diversos conhecimentos de origem indígena e filosofias não ocidentais, construindo para si a ideia de “shamanismo universal". Foi principalmente no seio desses grupos que surgiu a ideia de um “mercado" das medicinas, colocando um processo de capitalização do sagrado que não existia antes, criando modas, tendências e produtos avidamente consumidos pelos entusiastas. Dentro desse processo de globalização e capitalização das medicinas também começou a existir o conceito de “uso recreativo" em festas e afins fora do contexto ritualístico ou religioso presente nos povos indígenas e nas igrejas ayahuasqueiras.” (CE)
Para seguir
Aline Franca - @aline.biblio.indigena - idealizadora da Livraria Maracá
Daiara Tukano - https://www.daiaratukano.com/ - artista maravilhosa que conheci na última Bienal
Marcia Kambeba - @marciakambeba - ativista, escritora, compositora, atriz e Ouvidora do Município de Belém/PA
Midia India - https://midiaindia.org/ - canal de noticias formado por um coletivo de jovens de diversas etnias e regiões. (CE)
Sonia Guajajara pra finalizar, inspirar, pirar
Que mulher! Vídeo-aula direto da TVSenado. Não canso de ouvir ela dizer “é uma ganância para atender o capitalismo”. (CE)