Não tem bloquinho, mas tem uma news cheia de informação! 😝
Oi, !
(res
piro
pro
fun
do)
Socorro, né?
Haja respiro nesse fevereiro sem Carnaval, mas imaginando o tanto de fantasia de jacaré que não teria por aí, não é mesmo? Bom… vamos pensar que o que importa é que tá chegando vacina e vamos que vamos.
Divertir-se e expressar-se das maneiras possíveis é o que recomendamos fazer, e fazemos aqui em mais uma news toda brilhosa e cheia de crítica também (Carnaval nunca foi apolítico, afinal).
Sem vergonha nenhuma chegamos dizendo: Tá gostando do nosso conteúdo? Ajuda a gente a crescer? Manda emails!
Fique bem <3
Sarah e Cassimila
Vaca Profana
Estou escrevendo essa seção depois de uma noite inteira sem dormir. Enquanto eu me mexia na cama, procurando um espaço entre cachorro e gatos, tive um estalo. Do nada me veio à cabeça um quadro que vi no MASP (Museu de Arte de São Paulo) há alguns anos e que eu sempre gostei. Lembrava do nome da autora: Maria Auxiliadora da Silva. A madrugada, de repente, ficou colorida. Descobri que a artista era negra, neta de escravizados, filha de mãe bordadeira, escultora e poeta. Maria Auxiliadora, nascida na década de 30, trabalhou como empregada doméstica e apenas nos anos 70, pouco antes da sua morte precoce aos 39 anos, vivia exclusivamente da venda dos seus quadros. Ela foi descoberta enquanto vendia sua arte na Praça da República, em São Paulo. Até os 37 anos, ela não sabia ler e escrever. No entanto, pintava desde criança. Seus quadros relatavam cenas do seu cotidiano: missas, festas, velórios e hospitais. Maria Auxiliadora tinha uma saúde frágil. Aos 32 descobriu um câncer e passou anos lutando contra a doença até falecer. Em 2018, o MASP conseguiu resgatar um acervo com cerca de 80 obras e fez uma exposição solo da autora chamada Maria Auxiliadora: Vida cotidiana, pintura e resistência. A artista criava suas próprias técnicas de pintura usando muitas cores vivas. O “Velório da Noiva”, o quadro que me tirou da insônia angustiante, parece um trabalho de bordado e, a cada visita ao museu (que saudade!), me dedicava alguns minutos a pensar o que teria acontecido para que aquela noiva fosse velada e enterrada ainda de véu e grinalda. Este vídeo faz uma análise bem completa sobre a obra da pintora.
(S.M)
Inhame nhami !
Tem nome mais salivante? Em alguns lugares até é conhecido como YAM (inglês). Desde a recomendação do livro da Buchi Emecheta, na news de novembro, eu quero falar com vocês sobre o inhame. Isso porque no livro As Alegrias da Maternidade várias vezes ele é citado, dada sua importância na base alimentar da Nigéria (maior produtora mundial). Especialmente com a vida pandêmica, o inhame virou paixão na minha culinária. Explico: eu trabalhava no centro de São Paulo e tinha fácil acesso à Zona Cerealista e suas castanhas mais baratas. Desde março do ano passado, quando comecei a trabalhar de casa, a base alimentar ficou mais ligada à feira de rua aqui da esquina. Acontece que a castanha de caju por aqui é muito mais cara, então eu precisei tomar uma atitude*. Economizei e ainda ganhei flexibilidade nas minhas receitas substituindo a brancura cremosa da castanha de caju pela do inhame/taro (aquele pequeno e peludinho do sudeste, sempre cozido, tá?) nos molhos brancos, estrogonofes, vitaminas, maioneses e cremes. Mas é cará ou inhame? O inhame que eu uso é o mesmo da Nigéria?
Coisas que eu descobri sobre o inhame que talvez você não saiba:
Na sua carta sobre o descobrimento do Brasil, o escrivão Pero Vaz de Caminha chamou a mandioca de "inhame" (coisa que ele tava mais acostumado a ver);
Carás, inhames e tantos outros tubérculos parecidos causam confusão porque são muito comuns em zonas tropicais, tem muitas variações e quase todos são parentes do gênero de plantas Dioscorea;
Foi feito um congresso para padronizar a nomenclatura inhame/cará/taro então lê isso aqui que é rapidinho;
O inhame da Nigéria é geralmente do grandão que a gente encontra em parte do nordeste do Brasil. Sente só!
E aí? Animou de incluir os inhames no prato? Que tal substituir o arroz ? Vem você também pra esse vício! (C.E.)
Meu corpo é político
Este é o nome do documentário de Aline Riff que mostra o dia a dia de 4 transgêneros. O filme permite acompanhar a rotina dessas pessoas completamente sem roteiro e às vezes nem mesmo diálogos. A delicadeza de cada uma das histórias mostradas me fez chorar em alguns momentos. A gente esquece que sair de casa, pegar ônibus e ir trabalhar (num contexto não pandêmico) são conquistas diárias para quem é minoria social no Brasil. São atos políticos, sim! O documentário - premiado, diga-se de passagem - está disponível na plataforma Mubi. O trailer você pode assistir aqui. Na mesma temática, tem o doc Revelação na Netflix, com depoimentos de alguns dos astros de Pose (tem que ver!) e da sempre incrível Laverne Cox! (S.M)
Tem que Ler!
“Insistiu. Resolveu entrar na fila de adoção. Até que chegou a hora da menina chegar. Havia quase desistido pouco antes, tinha colocado na cabeça que se algum dia lhe ligassem ia dizer que não queria mais, era só e viveria para sempre só, só que quando estava a caminho do abrigo, carregava a mais absoluta certeza de seus últimos instantes de solidão, e ao contrário das mães biológicas, que sentem contrações pelo esvaziamento vindouro, a mulher se contraía toda por conta do preenchimento que receberia logo mais. E quando chegou no abrigo e viu a menina dizendo para a freira que torcia muito para não ter irmãos, que o sonho dela era ter um quarto sozinha, a mulher teve certeza que era sua filha mesmo sem tê-la gerado. Ao invés de presas por um cordão genético, eram seres solitários segurando as pontas afastadas de um imenso barbante que finalmente fora enrolado.”
O trecho acima é do conto “Tão perto quanto eu de você” da Helena Machado. Além de começar o texto me seduzindo com uma linda descrição de cores e legumes e verduras, Helena fala de adoção (tema que me faz sempre chorar). O texto todo brilha. Helena é grande e ainda vai estourar, anota aí esse nome. Esse conto está na Antologia Pandêmica PARAPEITOS, lançada no finalzinho de 2020, por um grupo incrível de escritores muito diversos que estavam conectados via zoom ao longo (l o n g o) do ano. Tive a sorte de estar nesse meio.
Para quem está querendo começar a pegar o hábito de leitura, aposte numa antologia. Aqui são 30 textos curtos, de autores variados, então é fácil de ler e pode te ajudar a entender qual seu estilo favorito. A partir de um autor você vai encontrando outros que te agradam ou seguindo eles pelas redes sociais ou até mesmo entrando numa rede social de livro como essa que comecei a usar e vai te indicando livros com base nos que você gostou. (C.E.)
Criador e criatura
Eu era fã do Woody Allen quando adolescente. Até mais ou menos 2006, comprei todos todos os seus filmes lançados até ali em DVD. Tinha seus livros. O fato de ele ter se casado com sua filha adotiva era visto por mim como algo excêntrico, assim como muitos dos diálogos que ele escreveu. À medida que fui crescendo, rever seus filmes começaram a me trazer alguns questionamentos como: por que esse cara é sempre tão irresistível em seus próprios filmes? Até mesmo os outros personagens masculinos que não eram interpretados por Allen começaram a me causar ranço e entraram no meu hall particular de gente escrota. E foi aí que entendi a gravidade do que ele fez com sua filha adotiva. E foi aí que entendi que eu não deveria mais apreciar aquele cara. A partir disso, outros “deuses” da arte, entre eles Picasso e Roman Polanski, viraram criaturas abomináveis. Passei a olhar para suas obras com outro contexto, deixando de admirá-las. O que mais doeu em mim foi colocar Michael Jackson nesse mesmo hall do meu museu cerebral de coisas que não devem ser admiradas. Isso só aconteceu ano passado, depois de assistir em pausas (porque é doloroso) à “Leaving Neverland”, na Amazon Prime. Não dava mais para duvidar, sabe? Depois dele também veio J.K Rowling, a criadora de Harry Potter e seus comentários transfóbicos e completamente incoerentes com o mundo que criou. Separar a obra do autor não é fácil. Existem outros pontos de vista e sei que tudo depende do contexto em que estamos inseridos. Tenho pensado bastante, por exemplo, em Machado de Assis, que proibiu a entrada de mulheres quando fundou a Academia Brasileira de Letras. Dá para colocar um autor do século XIX, com outro tipo de moral, no mesmo saco de artistas que abusaram de crianças e adolescentes no século XX? Deixo aqui um artigo beeeeem extenso (e muito bom) da escritora Claire Derderer sobre o ostracismo do Woody Allen na vida dela e outros pensamentos sobre artistas homens x mulheres. Adoraria saber sua opinião sobre o assunto. (S.M)
Como ser uma vítima?
Essa coisa do cancelamento é delicada, eu sei. É natural nos questionarmos, principalmente quando a postura vem de alguém que admiramos, se a pessoa realmente fez o que fez. Segundo a Thalyta Venerando, psicóloga da rede pública, que topou responder uma pergunta nossa sobre o tema, “a desconfiança acontece e ainda é muito maior quando o abusador, aquele que viola, está dentro do nosso convívio social. É difícil querermos pensar criticamente sobre uma pessoa de afeto estar em uma condição que "desagrade socialmente" então vamos calar, fingir não ver, ou escutar, oprimir ainda mais quem está sendo oprimido”. Sendo assim, o ser humano tende a julgar a vítima. Ainda mais, se ela não atua como o que nós entendemos por “vítima”, com choros, gritos e, no caso de assédio, em falar e acusar o abusador logo quando acontece. “Se não demonstra é julgado por parecer ser conivente com a situação que viveu, e aí nos perguntamos: será que a pessoa não pode conseguir superar? Ou se defender dos julgamentos? E se demonstra não aprovamos: então será que ela se sente confortável em querer falar?”, explica Thalyta. Quis escrever sobre isso porque me deparei com muitas mulheres questionando a postura da atriz Duda Reis, ex-companheira do Nego do Borel, e também da Dani Calabresa ao falar sobre os episódios de abuso que sofreu do Marcius Melhem, seu então chefe. O que eu posso dizer sobre isso, e é algo muito privado, é um pouco da minha experiência ao me dar conta de estar numa relação psicologicamente abusiva. Quando eu finalmente pude sair dela, eu me senti aliviada. Não teve choro. Por fim, eu estava livre depois de 5 anos. Fui questionada por algumas pessoas próximas que acharam “estranho eu estar bem”. Portanto, fica o alerta. Somos seres com vivências e aprendizados variados. As reações são diferentes e, nem por isso, tornam as pessoas menos vítimas. Se você está passando por alguma situação parecida e precisa conversar, anota aí o telefone da Thalyta (11) 9341-80875. (S.M)
Vício em Brechó
Não tem muito, fizemos uma postagem sobre consumo de moda consciente no nosso Instagram. Somos exageradamente estimuladas ao consumo estético e, quando estamos numa busca feminista e vegana, isso tudo é questionado. Quem me conhece pode dizer: nossa, mas você nem é consumista! Mas vou te contar aqui como o consumismo opera dos jeitos mais mirabolantes. Faz um tempo que venho num esforço de organizar e consumir mais consciente (especialmente em roupas) e nesse caminho a Marie Kondo ( recomendo a série e esse livro mais prático aqui) ajudou demais! Fiz o processo de organizar de um jeito que vejo tudo que tenho e de ficar com o que me traz alegria (apesar que muita coisa me traz alegria, risos). Acontece que numas temporadas na Europa descobri “brechós” ou saldões de roupas usadas por 1 ou 2 euros e despiroquei. Aquilo me despertou a monstra dos mil looks e que pensa em várias ocasiões e Carnavais. Eu saía de lá com uma ou duas sacolas cheias. Isso aconteceu algumas vezes. Resultado foi que lotou meu armário e nem tudo me trazia alegria. Como diz Nátaly Neri: “às vezes a gente não percebe que, por trás de alternativas sustentáveis, a gente tá com péssimos hábitos de consumo”. É de segunda mão: é. É mais ecológico: é. Mas é consumismo e é desnecessário. Quem opera esse consumismo desenfreado geralmente não é nem nossa necessidade nem nosso prazer mais genuíno. Me diverti muito com minha amiga Van por lá, não nego, acontece que eu podia ter me divertido tanto quanto sem perder a mão. Então, ultimamente andei dando peças (também tenho o hábito de dar e receber peças usadas de algumas amigas) e doando inclusive para brechós de ONGs como a Cão Sem Dono. É impressionante como dá um respiro no armário e na vida. Tem gente aí precisando dessas roupas que estão sobrando e você nem gosta tanto assim. (C.E.)
(*) A vida de Tina
Pra quem não pegou a referência no texto do inhame, e também pra quem pegou. Tina já viralizou bem, mas preciso deixar aqui registrado e celebrar a maravilhosidade dessa grande personagem criada por duas atrizes ironizando a classe média. Tenho um episódio preferido: Piracuca! E você? (C.E)