Aqui a gente ensina até como ter água no deserto
Alô, Alô ,
Trazemos quentes e boas!!!
Na newsletter deste fevereiro de 2022, ótimas ideias de fantasia de Carnaval para você montar com bastante calma para 2023. Bora estudar personagem para performar com intensidade. Tem Cleópatra, Frankenstein, Vaca Profaníííííssima, e até lá, você aprende a plantar no deserto e até um pouco mais sobre Comunicação Não Violenta.
Abraços,
Cassimila e Sarah
Vaca profana
Em dezembro, assisti ao documentário “Get Back”, um novo ponto de vista sobre o episódio mais controverso da existência dos Beatles. Dizem que quando o doc original, “Let it Be”, foi lançado a tensão reinava entre os 5 membros e a partir daí se separaram. Essa versão remasterizada do cotidiano de gravação dos Beatles me deixou feliz, apesar de ter percebido o climão.
Me dei conta que, ao contrário do que pensava - e provavelmente você também - Yoko Ono não parece ter tido tão a ver com a separação do grupo. E, sim, ela é nossa Vaca Profana. Este mês, precisamente dia 18, Ono completou 87 anos e, até então, eu não sabia nada sobre ela que não a conectasse a John Lennon. E, se estamos falando aqui de feminismo, precisamos tratar as mulheres como um ser individual. Yoko Ono tem uma trajetória controversa, o que posso entender ao saber que ela é aquariana…rs.
Eu procurei muitas referências sobre suas obras e para ser muito honesta, pouca coisa em relação à sua performance como artista é positiva. Mas, alguém tão progressivo, certamente tem uma história interessante. Ono nasceu no Japão e sua família fugiu para os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo relatos, por toda sua infância e adolescência procurou pela afirmação e apoio dos seus pais para que se tornasse artista e nunca o encontrou. Sua família tratava de fazê-la desistir de procurar o caminho das artes, já que naquela época eram poucas as mulheres que conseguiam ter sucesso nessa profissão.
Aliás, o reconhecimento chegou tarde para Yoko Ono. Antes dele, ela foi a primeira mulher a se inscrever no curso de filosofia da Universidade Gakushuin, Japão, em 1951. Ela se casou três vezes. A primeira com o compositor Toshi Ichiyanagi, contrariando a vontade de seus pais que não aprovavam a relação por ele ser de uma classe mais baixa. Ao se separar, em 1960, tentou suicídio e foi internada em uma clínica para cuidar da sua saúde mental. Antes de se casar com Lennon, teve outro casamento que durou 4 anos. Durante sua vida com o beatle sofreu pelo menos três abortos espontâneos e passou pela morte de um filho ainda bebê.
Particularmente, não sou fã de arte moderna. Entretanto, posso entender melhor as obras de Yoko Ono ao saber da sua história e do contexto em que foi inserida. Desde sempre, com ideias que não cabem em sociedades tradicionais. Vida longa à Yoko. (SM)
Quentes e Boas
Uma amiga querida está em Portugal (alou Isa!) e falando um pouco sobre meu tempo lá, lembrei dessa comida de rua maravilhosa, veganíssima, típica do inverno: castanhas-portuguesas assadas. Algumas fotinhos pra gente salivar e ter certeza que tem muita comida vegana quente e boa nesse mundão. (CE)
A história narrada por uma mulher
Acho que toda newsletter eu recomendo algum podcast por aqui. E, se você gosta de história, precisa escutar “Eu fiz pão”, da minha amiga e colega de trabalho Anahi Caetano. Em um dia devorei os 3 primeiros episódios e que delícia ouvir a história da Cleópatra narrada por uma mina. Deleite do puro saber! (SM)
Água no deserto
Tem um ano que começamos a plantar em casa. Nesses meses, já colhemos muita acelga, coentro, rabanete, couve-flor e repolho. MUITO REPOLHO. Perdemos alguns brotos pelo caminho durante o verão do norte do México, de junho a setembro. Falta água e, infelizmente, o sol forte do deserto queimou muitas das nossas plantas. Temos tempo procurando e testando alguma maneiras de proteger nossa horta do clima intenso de Tijuana. O grande descobrimento que fizemos recentemente, depois de testar - sem sucesso - outros métodos, foi o de enterrar jarras de cerâmica no jardim. Essas mesmas, pescoçudas, que os hypes usam para tomar água. Um vaso cabe um litro de água e mantém o solo úmido em até 30 cm de distância de onde foi enterrada. Aqui, com o sol forte, o vaso tem demorado um mês para secar. Claro, ainda não estamos no verão. A chuva tem cooperado bastante, mas, ainda assim, tem alguns dias de temperatura alta e vento seco. Dá para usar a técnica também em vasos de plantas e canteiros. A jarra transpira pelo barro pouco a pouco, sem encharcar. Deixo o vídeo (em espanhol) de onde encontramos a dica. (SM)
Papo sobre CNV
Outra amiga mora em Portugal, é uma psicóloga incrível, e me convidou para um bate-papo Psicologia e CNV que vai rolar no Instagram da Feganismo dia 10 de março, 18h. Você está mais que convidada! Aproveita e já segue ela aqui @psiadrianabuonfiglio . (CE)
Tem que ler
“Minha comida não é a mesma do homem; eu não abato o cordeiro e o cabrito para satisfazer meu apetite; as bolotas do carvalho e as bagas me propiciam alimento suficiente. Minha companheira será da mesma natureza que eu e se contentará com a mesma alimentação. Faremos a nossa cama com folhas secas; o sol brilhará sobre nós como sobre os homens e amadurecerá nossa comida. O quadro que eu lhe apresento é pacífico e humano.”
Frankenstein, de Mary Shelley, roubou meu coração. Virou um dos meus grandes favoritos. Eu só queria abraçar a criatura, dar colo e fazer cafuné, mas vim aqui chamar você pra honrar essa obra maravilhosa com algumas curiosidades que me inspiram.
Que diabos é bolota e bagas? Bolotas são como uma noz, e bagas são frutos (diversos). Adorei ler mais sobre bolotas de carvalho aqui e descobrir que são mais uma comida que é desprezada e, por isso, na nossa sociedade especista, majoritariamente servida aos porcos (em Portugal).
Monstro vegetariano? Pois é, anos e anos sem saber desse detalhe nada detalhe dessa obra clássica. Por que não é um tema o vegetarianismo do monstro? Por que tanta gente não sabe que foi escrito por uma mulher? Pois é! Também não é um tema como o livro fala de abandono e da tragédia que pode vir quando nos é negada a necessidade de conexão e pertencimento. Por que excluímos alguns seres dos círculos especiais? O livro trata sobre a recusa de permitir “estranhos” na roda dos topzera (que aqui no caso eram os humanos, machos, brancos e “não montados a partir de pedaços de humanos e animais mortos”).
Frankenstein não é o nome do monstro! É o nome do cientista que “cria” a “criatura”. Mas quem é o verdadeiro monstro da história? Rende um ótimo papo…
No livro A Política Sexual da Carne tem um capítulo especial para esse clássico! E Carol J. Adams analisa todas as relações da obra com o vegetarianismo e o feminismo. É lindo lindo de ler.
A mãe da Mary Shelley foi pioneira do feminismo! Mary Wollstonecraft morreu pouco tempo após o nascimento da nossa Maryzinha (como dizem as meninas do podcast Outras Mamas - vale ouvir esse aqui), mas Maryzinha cresceu com o sangue, e o livrinho da mami ali do lado: “Reivindicação dos direitos da mulher” de 1792 foi também uma resposta à Constituição Francesa de 1791, que não incluía as mulheres na categoria de cidadãs.
Mas de onde veio o vegetarianismo do livro? Uma das influências da Mary deve ter sido o humano macho topzera da vida dela, seu futuro marido (quando ela escreveu o romance eles estavam apenas “juntados”). Percy Shelley era um poeta romântico estrelinha da época e chegou a escrever dois artigos sobre vegetarianismo. Mais sobre a história do vegetarianismo aqui e sobre o Percy Shelley aqui.
De onde veio essa ideia, caramba? Migues do clube de escrita venham cá! Mary simplesmente se iluminou para escrever Frankenstein com uma provocação de Lord Byron, outra figura do romantismo que foi vegetariana. Era uma temporada de tédio na casa do moço famosão e pra “sair da rotina”, Byron propôs o desafio: cada um aqui vai escrever uma história de terror. A melhor vence! Pouco tempo depois a Mary sonhou com a ideia principal do romance. Adoro como dali, daquela noite, saíram duas das maiores figuras de “terror” que temos até hoje: Frankenstein e o Vampiro. Mary tinha apenas 18 anos. Sobre isso (e vários babados do contexto da escrita da Mary) pode ser legal de ver o filme “Mary Shelley”, que é dirigido por Haifaa al-Mansour, a primeira mulher saudita a se tornar cineasta! Pena que o filme cai em clichés e ignora o vegetarianismo, mas ainda assim vale a pena.
A primeira edição saiu anônima! Porque né…. uma mulher escrevendo, credo! Uma mulher escrevendo terror, mais CREDO ainda! Então, a editora que a Mary conseguiu na época só aceitou lançar o livro anônimo e com uma apresentação do Percy Shelley, que por um tempo acabou levando a fama de autor da obra. (CE)