Vai um chocolatinho aí?
Oi, !
Uma coisa bem arriscada por esses tempos é se negar pequenos prazeres. É preciso viver alegrias para equilibrar a desgraça mundial.
Portanto, nessa edição nos dedicamos a um mimo de muita gente, às vezes paixão, quase vício: o chocolate!
O que o chocolate tem a ver com feminismo e veganismo?
(Se é novo por aqui, ou mesmo não sendo, entenda tudo nesse belo resumo didático em forma de podcast - valeu, Edu!)
Vem com a gente que isso aqui tá um belo show de domingo, tem história, emoção, saúde, amor, desgraça e esperança, para você olhar para as sobras de Páscoa de um outro jeito e para celebrar o cacau sagrado junto com tantos povos originários das nossas terras latinas.
Sarah e Cassimila
Vaca Profana
Francine Cristophe é uma poetisa francesa, sobrevivente do Holocausto. Hoje, Francine tem 87 anos. Aos 8 anos, ela e sua mãe foram levadas a um campo de concentração. Apesar de judias, elas tinham uma classificação “privilegiada” e, por isso, puderam levar alguma coisa com elas. A mãe de Francine levou consigo dois quadradinhos de chocolate e disse que deveriam ser comidos apenas em casos extremos. Meses depois, os chocolates permaneciam intactos. Uma companheira estava por dar à luz e por seu estado de saúde delicado poderia morrer. Então, Francine e sua mãe decidiram oferecer o chocolate a ela. O bebê nasceu sem complicações. 6 meses depois elas foram libertadas e, pela primeira vez, Francine escutou o bebê chorar como se ele tivesse nascido naquele momento. Anos mais tarde, em uma conferência sobre psicólogos e psiquiatras para apoio a sobreviventes de campos de concentração, Francine estava presente e uma das participantes, uma psiquiatra, pediu para falar com ela um momento e lhe entregou um chocolate. Sim, ela era a bebê. (S.M)
Francine conta sua história nesse vídeo lindo!
Chocolate latino, meu bem!
“Chocolate” é uma palavra que provém do náuatle, língua Azteca, e especula-se que significa água amarga. Por evidências de consumo por fins cerimoniais, sua origem ficou sendo, por anos, a América Central, especificamente falando, o México. Contudo, uma pesquisa de 2013 muda um pouco a história do “ouro negro”. Arqueólogos encontraram evidências físicas e químicas de mais de 5 mil anos do consumo do cacau na região amazônica, no sudeste do Equador. As evidências do seu consumo pela cultura Olmeca (México) é de 3 mil anos, ou seja, mais recente. É sabido que as culturas pré-hispânicas se comunicavam e tinham acesso entre elas e por essa aproximação, a iguaria deve ter chegado às tribos centro-americanas. Logicamente, o chocolate tal e qual conhecemos não era ainda consumido. Era feita uma mistura de cacau fermentado, algo muito parecido ao Tejate (foto tirada por mim em novembro de 2020), mistura fermentada de cacau e milho - uma delícia - e mais popular no estado de Oaxaca, no México. Foi apenas em 1828, com a Revolução Industrial e o nascimento da máquina de prensagem, que o chocolate como conhecemos hoje passou a existir. (S.M)
O cacau sagrado
Rituais do “cacau sagrado” têm sido organizados por aqui, mas tudo muito “boutique hippie” pro meu gosto. Vocês bem sabem a resistência que tenho a toda enganação que envolve tantos rituais e mestres pseudo-iluminados por aí. Então, nenhum por aqui ainda me convenceu. Tive o prazer de compartilhar minha primeira Festa dos Mortos no México com a Sarah. E lá em Tlaquepaque me realizei, com direito a uma cerimônia no coreto da praça, no centro do fervo da festa. O babado era organizado pelo Colectivo Coyolxauhqui, um grupo de terapeutas indígenas. Num primeiro momento resisti, mas bruxa Sarah me incentivou e logo eu estava lá emocionada com tamanha beleza de rito dedicado aos nossos difuntos (como eles diziam). Ao final da cerimônia eles nos presenteavam com algumas amêndoas de cacau e me disseram: el cacao que ayuda a abrir el corazón para conectar con el amor. Tem um vídeo bem rapidinho dessa bênção lá no Instagram da @Feganismo. Corre lá!
<3 (C.E)
Para um chocolate ser vegano
Você aí que amaaaa um chocolate e quer veganizar esse afago na alma repassa aqui com as gente o que é um chocolate vegano.
Sem ingredientes de origem animal - sem leite, creme de leite, leite em pó, ovos, mel, marshmallow, corante cochonilha (para fingir que o recheio é de morango, usando mais gordura vegetal e leite em pó);
Sem trabalho escravo humano (infantil ou adulto) - a maior parte do chocolate usado pelas grandes indústrias é de origem desconhecida, o que significa que, infelizmente, vem de lugares onde a mão de obra é a mais barata possível e as condições de trabalho…já sabe, né?
Sem trabalho forçado animal - o uso de animais para carregar produções ainda acontece. Nossos amigos não são máquinas de transporte de peso. Isso sem falar nos maus tratos… socorro!
Não pertencer a grupos de empresas que patrocinam rodeios, desmatam florestas, destroem os oceanos e testam em animais.
Calma, calma. Vai na paz, você vai achar seus queridinhos e sua escolha ficará mais fácil e honrosa. Adora chocolate ao leite? Prova os com leite de coco ou o chocolate de cupuaçu (é parente do cacau e o resultado é bem mais macio, eu adoro). Para quem lê inglês, mesmo que rústico, pega essa visão aqui que o mozão me mandou Up Next Cocoa: A Bittersweet Supply Chain e pouco a pouco vai descolonizando seu chocolate. Sonhamos com mais chocolates produzidos assim e assim, fortalecendo comunidades e florestas. Te garanto que a delícia vem com outra profundidade. (C.E.)
Chocolate na TPM, sim!
Essa nutri que já citei na nossa news realmente me ajudou a transformar meu ciclo e ela é do time que recomenda chocolate para a fase lútea ou TPM*, sim! Saca só aqui que post mais completinho e se quiser a opção rápida vai no Dráuzio aqui. Mais rápida ainda: confia em mim, o que ajuda é o cacau, não o açúcar! Experimenta usar chocolate (acima de 70%) ou cacau em pó, nibs ou ainda amêndoa de cacau inteira se você achar por aí. Vale a pena apurar o paladar para essa maravilhosidade. (C.E.)
*Tem que ler extra para quem compra livros na TPM
Tem livro novo da musa Aline Bei na área (“O Peso do Pássaro Morto” foi nossa primeira recomendação aqui) e eu tô que não me aguento. Chega logo! (C.E.)
Chocolate na comida é bom e eu posso provar
Eu não sei se você, que está recebendo essa news, sabe, mas eu, Sarah, moro no México há algum tempo. Eu vir parar aqui é uma história longa, do início dos anos 2000, e uma das coisas que mais me encantou no país foi justamente a comida. Como você deve imaginar, o mexicano tem uma história de amor com o chocolate e uma das iguarias mais populares da sua tradicional comida é o “Mole negro”. Existem mais de 50 tipos de mole, que é uma mistura muito curiosa que pode levar mais de 90 ingredientes (canela, amendoim, banana-da-terra, gergelim, tomate, cravo, etc.). No caso do mole negro, um deles é o chocolate. E, sim, ele dá um sabor e aroma “chocolatoso” ao prato - salgado - e pode ter uma certa picância também. Eu, particularmente, amo. É tão maravilhoso e a textura tão aveludada que me dá vontade de tomar banho naquele creme. Mas, tem muito mexicano que torce o nariz para a mistura exótica. Vale dizer também que nem todo mole negro é vegano. Os mais tradicionais são preparados com caldo de galinha e manteiga de porco, por isso sempre vale perguntar. E, sim, além do mole negro, o chocolate tradicional do México é uma delícia. Merece uma menção honrosa o chocolate quente daqui, preparado com uma espécie de barra grossa de chocolate e açúcar, que é fervido na água ou leite e misturado com uma colher redonda de pau até ficar a espuminha. Se você ficou com vontade, a receita é esperar a pandemia passar e programar uma viagem pra cá. ;) (SM)
Enchiladas de verdura com mole negro que a Cassimila comeu em 2019 quando veio me visitar.
Tem que Ler!
“A excelência do chocolate depende de três coisas, a saber: de que o cacau que se emprega esteja bom e não avariado, de que se misturem em sua fabricação distintas classes de cacau e, por último, de seu grau de torragem.”
“O chocolate feito com água é de melhor digestão que o de leite. Gertrudis fechava os olhos cada vez que dava um sorvo na xícara de chocolate que tinha diante de si. A vida seria muito mais agradável se uma pessoa pudesse levar aonde quer que fosse os sabores e cheiros da casa materna.”
Em “Como Água para Chocolate”, a mexicana Laura Esquivel não é nada vegana, já aviso. Mesmo com algumas matérias anunciando o vegetarianismo da autora (relativo à prática de meditação), o trunfo da Laura aqui é escrever a partir de suas memórias de infância na cozinha e perfeitamente passear entre literatura e afetividade na comida (tudo que quero na minha vida). Alguns chegam a classificar como cozinha-ficção, pois cada capítulo gira em torno de um prato (obviamente tem um dedicado ao mole). Esse capítulo do chocolate é o único capítulo que fez minha alma vegana sorrir e lembrar das maravilhas chocolatosas do México. Mas todos os outros valem muito a pena serem lidos e honrados. É uma história de amor, meio maluca, completamente envolvente. (C.E.)
O filme baseado no livro é de 1992 e tem para alugar na Amazon Prime