Só mulher f*da nessa news!
Oi, !
Como anda esse ânimo?
A vida é uma sucessão de problemas, muitos fora do nosso controle, mas seguimos trazendo para você conteúdos selecionadíssimos, com choque de realidade e esperança.
Vamos caminhar por uma vida um tiquinho mais maravilhosa?
Vem com a gente!
Sarah e Cassimila
Vaca Profana
Eu deveria ter uns 27 anos quando estava em uma reunião de resultados, num famoso hospital privado de São Paulo. Na sala, entre as mulheres que compunham a equipe de marketing da instituição e de onde eu trabalhava, também estava o diretor do local. Um ser nefasto. Eu não tinha todo o entendimento que tenho hoje sobre o machismo e não me sentia à vontade em me posicionar contra um cliente, já que dependia do trabalho. O cara soltou uma piada extremamente machista e racista, que eu não me lembro exatamente o que era. Só me lembro do constrangimento, de não ter dado risada e mudar de assunto, ignorando o comentário. Isso deve ter sido em 2013/14. Eu não tinha coragem de agir de outra maneira e tenho convicção que muitas de nós, mulheres, ainda têm medo de denunciar ou parar comentários misóginos e assédio no ambiente de trabalho.
Não, eu não sou a Vaca Profana dessa edição. A nossa homenageada é Anita Hill, professora, advogada e ativista de assuntos das mulheres. Em 1991, ela teve coragem de denunciar de assédio sexual seu supervisor, o juiz Clerance Thomas (que ainda ocupa uma cadeira no Supremo Tribunal dos EUA). Assim como o diretor do episódio que aconteceu comigo, Thomas fazia piadas de cunho sexual - chegou a colocar um pelo pubiano seu na lata de refrigerante de Anita -, que segundo ele não feriam ninguém. Anita, que já era advogada, precisou testemunhar os abusos diante de um conselho de homens - brancos, claro - sendo um deles o atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Ela foi desacreditada, mas não sem antes ser ridicularizada e linchada. Outras mulheres levantaram denúncia contra Thomas e sequer foram ouvidas.
28 anos depois desse episódio, antes das eleições norte-americanas que elegeram Joe Biden, ele ligou para Anita pedindo desculpas pela maneira em que ela foi tratada. Por sua vez, ela disse que não estava satisfeita com o pedido de desculpas. Anita abriu espaço para que mais mulheres se candidatassem nas eleições seguintes e sua atitude gerou várias mudanças em relação a como o assédio sexual deveria ser tratado nos Estados Unidos. Mais detalhes sobre quem é essa destemida mulher, aqui. Existe também um filme, chamado "Confirmação" disponível na HBO Go.
(S.M)
Descolonizando LGBTQIA+fobias
Texto maravilhoso indicado pelo meu amigo João para seguir no clima da newsletter anterior e constatar que a relação que a Índia tem com as identidades de gênero, fluidez e sexualidade realmente regrediu com a invasão inglesa. (C.E)
Um passo antes do coletor menstrual e afins
Foi num episódio da série The Bold Type que fui surpreendida por uma questão que antes não havia parado para pensar com mais cuidado: a pobreza menstrual. Na história, uma das personagens principais, jornalista, tinha de escrever o perfil sobre uma CEO de uma empresa de coletor menstrual que a cada produto comprado, outro era doado a uma ONG de mulheres refugiadas. Na série, tudo ia bem até que a repórter foi conversar com a diretora da instituição que afirmava que a ajuda não era assim tão boa. Muitas das mulheres que recebiam o coletor menstrual não tinham acesso diário à água ou banheiro para higienizar o item e, por isso, terminavam no hospital ou doentes por infecção. A privação da higiene básica de uma mulher é chamada de “Pobreza Menstrual” e, no Brasil, é caso de saúde pública. São mais de 6 milhões de mulheres, sendo 65% negras, que não têm acesso à água encanada no país. Além da falta de recursos básicos, muitas também carecem de informação sobre como cuidar da higiene durante o ciclo menstrual. Não sei se você sabe, mas existe um grupo internacional de meninas, presente no Brasil, que chama Girl Up, que conseguiu aprovar um projeto de lei (Menstruação sem Tabu), que propõe uma série de medidas para conter a “Pobreza Menstrual”, entre elas:
Acesso universal a absorventes higiênicos;
Campanhas de conscientização sobre menstruação direcionadas a todos os gêneros;
Redução de alíquota de impostos federais em absorventes higiênicos;
Incentivo à produção de absorventes sustentáveis.
Recomendo que leia o projeto completo aqui. E se você é daquelas que sempre lembra de incluir pacotes de absorventes em suas doações, não desanime! Parece pouco, mas garanto que se fazemos juntas ajudamos a outras manas a darem passos maiores. <3
(S.M)
Feijoada Vegana
A feijoada é um prato considerado típico brasileiro, nada vegano na origem, mas facilmente adaptado, o que significa que pode ser o mais fácil de se encontrar de almoço vegano por aí. O que há de mais local na feijoada é o feijão preto e a farinha de mandioca (únicos ingredientes do prato originários da América do Sul).
Engatei com meu namorado um projeto de provar diversas feijoadas veganas de SP - estratégia também de “diversidade” na pandemia - ter comidas diferentes chegando por delivery nos refrescou os sábados dentro de casa. Agora, depois de 20 restaurantes diferentes (alguns já repetimos, então venho falar com você depois de muitas degustações e digestões).
Te conto tudo que encontramos e algumas curiosidades:
A conversa que a feijoada foi criada e era consumida por pessoas escravizadas é só papinho parte do projeto “Brasil não tem preconceito”. A feijoada veio do cassoulet e similares europeus, veja aqui;
Tudo que encontramos nas feijoadas veganas: batata, inhame, cenoura, berinjela, tofu defumado, coco seco, champignon, shitake, shimeji, vagem, nabo, beterraba, brócolis, bardana, abóbora, seitan, proteína de soja de diversos tamanhos e salsichas e linguiças veganas variadas - caseiras e de marca e até azeite de dendê;
Para fazer em casa recomendo muito que você use páprica defumada, já conhece esse tempero? Hmmmmmmm. E insisto: deixe seu feijão de molho e troque a água para evitar gases e ficar mais bem nutrida. Uma das avaliações que fazíamos das feijoadas era o tanto que pesavam no estômago e se tinham efeito gasoso!
Os preços variaram muitooooooo. Considerando o valor para dois, de 36 até 100 reais! Confira aqui nossas observações e fotos no Insta.
O projeto agora é fazer a nossa própria feijoada ainda mais descolonizada. Já andamos testando nossa receita e tá demais! Darei notícias. (C.E)
Mãe e arrependida
Maternidade é um assunto muito delicado e cheio de nuances. Um dos pontos que me fez decidir sobre não ser mãe foi o sentimento de que a maternidade não deixa espaço para o arrependimento. E, ao me conhecer relativamente bem, sinto um medo absurdo de me arrepender. Não existem mães arrependidas ou pelo menos elas não deveriam existir, certo? Errado. E mais, o arrependimento da maternidade não te torna automaticamente uma mãe ruim. Acha que eu estou viajando? Te convido a ler um relato muito corajoso de uma mulher que detesta ser mãe. (S.M)
Tem que Ler!
“Nívea, a esposa, preferia entenderse com Deus sem auxílio de intermediários, tinha profunda desconfiança das sotainas, aborrecia-se com as descrições do céu, do purgatório e do inferno, mas acompanhava o marido nas suas ambições políticas, na esperança de que, conseguindo ele um lugar no Congresso, ela podia obter o voto feminino, pelo qual lutava fazia dez anos, sem que os seus numerosos estados de gravidez a fizessem desanimar.”
Tive que voltar às nossas newsletter todas para ter certeza que ainda não tinha recomendado minha musa: Isabel Allende. Li pela primeira vez ano passado o maravilhoso A Casa dos Espíritos, emprestado da Vivi (gracias, amiga). Dali tirei esse trecho - ainda fico problematizando o fato do Gabriel Garcia Marquez ter chegado tão antes nas minhas leituras. O livro de estreia da Isabel é mágico, envolvente e real (minha combinação preferida), e atravessa gerações de uma família com foco nas mulheres. Tem que ler!
Tem que Ver
Para mais, aproveite a série Isabel na Amazon Prime - tá curtinha, maravilhosa e a própria musa já aprovou, olha só.
(C.E)
Escrever para desafogar
Vendo a série resolvi começar a ler Paula, livro da Isabel que leva o nome da filha que morreu jovem de uma doença rara. “-Toma, escribe y desahógate, si no lo haces morirás de angústia, pobrecita mía.” Essa frase aparece no livro, atribuída à sua agente, Carmen. O livro é uma carta para a filha desacordada, um relato da vida, da família, das angústias da Isabel nesse momento. Me fez lembrar de como escrever para mim é antes de tudo esse desafogar. A Isabel escreveu seu primeiro livro para lidar com o luto do avô, e esse para lidar com a doença muito grave e perspectiva de luto da filha.
Como estamos num momento muito propício aos lutos e angústias, quero recomendar que você invista nisso. Não para ganhar dinheiro ou ficar famosa, apenas para desafogar. Você já teve diário? E daqueles com chave? Foi um presente comum para meninas lá na minha infância/adolescência.
Na pesquisa para dar peso pra minha recomendação, achei esse relato de título perfeito “Na pandemia a escrita terapêutica me ajudou a acalmar a cabeça” (mas cheio de merchan) e esse vídeo da Jout Jout que deixo aqui para finalizar. (C.E)